Olhar Filosófico
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Na sociedade da aparência, da técnica e do espetáculo em que vivemos, o sucesso ou “vitória total”, se tornou meta de felicidade. Sucesso esse que significa, em outras palavras, “se dar bem” sobre alguém, se autoafirmando numa espécie de desgraça alheia, nos motivando, perigosamente, a não medir esforços nem meios para alcançarmos tal objetivo, mesmo não sabendo ao certo se, realmente, é o que desejamos. No sucesso, inclusive, pode ser resumida a ideia de posse/poder sobre e não junto de.
Já o insucesso ou frustração tem, não raro, rimado com desgraça, falta de talento ou sorte; nada mais falso.
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A princípio, de fato, ninguém deseja a frustração, mas o que devemos saber antes de tudo, que a mesma faz parte do processo da vida humana. Ao invés de nos sentirmos culpados, derrotados pelo insucesso, temos, isto sim, de aprender a lidar com ele e vencer a falsa noção de sucesso que herdamos. Se os sábios inventores (em todos os ramos do conhecimento) tivessem desistido de suas teses, a civilização desenvolvida seria uma quimera.
Quando nos confrontamos com a frustração, devemos, a partir daí, criar meios de superá-la; mas precisamos saber o que nos aflige verdadeiramente. Afinal, vitória (sucesso) e derrota
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(fracasso) são duas faces da mesma moeda chamada vida, tudo dependerá, portanto, do sentido que dou a essa moeda, que é minha vida, o mundo, o cosmos e, até, a morte.
Gostaria de sugerir uma honesta reflexão à seguinte história da vida cotidiana:
Numa classe da 5º ano do ensino fundamental, a professora pergunta aos seus alunos, a título de estímulo, quem cada um gostaria de ser/parecer/copiar quando crescer.
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Eis que diante de tal pergunta, surgem respostas diferentes, mas de toda forma já previstas.
Noventa e nove vírgula nove por cento das crianças da sala, respondem que gostariam de ser tal ou tal personalidade social e/ou artística. E nem é preciso dizer que todas personalidades lembradas e citadas só são personalidades por possuírem uma, duas ou as três das características (e não qualidades) básicas do ordinário reconhecimento público: dinheiro, beleza e fama, todos sinônimos de poder sobre algo ou alguém de acordo com o momento histórico-social e ideológico em que se vive.
Mas eu havia dito que noventa e nove vírgula nove por cento da classe pensava assim, o zero vírgula um por cento que restara é o isolado, mas não menos sorridente Joãozinho, que chama a atenção da professora por não manifestar vontade parecida,
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– Ué?! Joãozinho, você não vai querer ser “alguém” quando crescer?
E Joãozinho responde, não menos alegre que os demais, mas meio sem jeito, meio acanhado e deslocado em relação aos desejos da classe,
– Sabe “fêssora”, gostaria de ser Francisco de Assis!
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A classe, após a resposta do colega, cai na gargalhada, afinal, eis o bobo da turma; pois, enquanto todos querem ser ricos, lindos e famosos, ele quer ser pobre e lutar e viver com eles, por eles e para eles, quer ser tido como feio para não se perturbar com a vaidade e suas tentações (consumistas e consumidoras de nossas “virtudes”), quer ser, ao invés de famoso, anunciador de alguém, segundo ele, merecedor de toda “fama” e reconhecimento.
Enquanto todos engrandeciam, ele apequenava. Será?
Enfim, a professora achou bonitinho a classe seguiu o ritmo e no dia seguinte cada criança continuava a se construir e ser moldada como uma ilha.
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E nós, como analisamos a posição de Joãozinho e da classe? Disto depende toda uma vida de sentidos (profundos ou supérfluos), apesar dos acidentes de percurso chamados, como vimos, sucessos e frustrações. (Monsalvo, Diego. Dissecando o Líder. Santos, SP: Realejo Edições, 2009)
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