Olhar Filosófico
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Em seu clássico estudo "Inibição, Sintoma e Angústia", Sigmund Freud definiu a fobia como um tipo de neurose caracterizada por um medo intenso e irracional de um objeto ou situação específica. Para o pai da psicanálise, as fobias representavam um conflito inconsciente entre desejos reprimidos e as normas sociais, levando o indivíduo a deslocar sua ansiedade para um objeto substituto.
O objeto fóbico, em si, não representa um perigo real, mas para o indivíduo que sofre da fobia, ele se torna um símbolo de angústia e ameaça.
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Mais de um século após as primeiras formulações de Freud, as fobias continuam a ser um fenômeno prevalente na sociedade contemporânea. No entanto, ao observarmos as características da sociedade atual em que vivemos, marcadamente nas ocidentais e “ocidentalizadas”, podemos identificar novas nuances e paralelos com o conceito freudiano de fobia.
Portanto, embora as fobias possam ter diversos gatilhos, desde animais e insetos até espaços fechados ou multidões, neste pequeno texto, traçarei um paralelo entre o conceito freudiano de fobia e alguns aspectos da sociedade capitalista contemporânea.
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A sociedade capitalista contemporânea, frequentemente chamada de "sociedade líquida" pelo filósofo Zygmunt Bauman, é caracterizada por uma constante mudança e incerteza. O mercado de trabalho instável, as rápidas inovações tecnológicas e a globalização geram um sentimento de insegurança e ansiedade nos indivíduos.
Esse medo do desconhecido pode se manifestar como uma fobia do futuro, impedindo as pessoas de tomar decisões, correr riscos ou investir em seus sonhos. A insegurança crônica pode levar à procrastinação, à falta de iniciativa e à apatia, aprisionando o indivíduo em uma zona de conforto ilusória.
O sistema capitalista coloca uma ênfase desmedida no sucesso individual, medido por critérios materialistas como riqueza, fama e poder. Essa obsessão pelo sucesso pode gerar uma fobia do fracasso, levando a um estado permanente de ansiedade e cobrança.
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O medo de falhar pode paralisar as pessoas, impedindo-as de tentar novas coisas, correr riscos e aprender com seus erros.
A busca incessante pelo sucesso pode se tornar uma fonte de sofrimento e frustração, levando ao esgotamento mental e físico, além de prejudicar as relações interpessoais.
A sociedade capitalista se baseia na lógica do consumo, onde a felicidade é constantemente associada à posse de bens materiais. Essa cultura consumista gera uma fobia da perda, levando as pessoas a acreditarem que precisam de cada vez mais bens para se sentirem felizes e completas.
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O medo de perder o que se tem pode levar ao acúmulo excessivo de bens, ao endividamento e à compulsão por compras. A tirania do consumo cria uma falsa sensação de segurança e felicidade, mascarando problemas mais profundos como a falta de autoestima, o vazio existencial e a solidão.
O individualismo exacerbado e a fragilização dos laços sociais na sociedade capitalista contribuem para o aumento da fobia da solidão. O medo de estar sozinho, de ser excluído ou abandonado se torna cada vez mais comum, gerando sofrimento e isolamento.
O sistema capitalista promove uma cultura de homogeneização, onde a individualidade e a diferença são vistas como obstáculos ao consumo e à produtividade. Essa busca por uma uniformidade social pode gerar uma fobia da diferença, levando à intolerância, ao preconceito e à discriminação.
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A cultura do consumo e a homogeneização dos padrões de beleza e comportamento criam um ambiente hostil à diferença.
A fobia da diferença se manifesta na intolerância com o outro, na discriminação e no preconceito, reforçando a exclusão social e a marginalização.
Esse medo do diferente pode se manifestar de diversas formas, como o racismo, o sexismo, a homofobia e a xenofobia. A intolerância à diferença impede a construção de uma sociedade plural e tolerante, limitando o desenvolvimento humano e social.
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Portanto, ao traçarmos um paralelo entre o conceito freudiano de fobia e as características da sociedade capitalista contemporânea, podemos identificar como o sistema atual pode gerar diversos tipos de medo e ansiedade nos indivíduos.
A fobia do desconhecido, a fobia do fracasso, a fobia da perda e a fobia da diferença são apenas alguns exemplos de como o medo pode ser utilizado como ferramenta de controle e manipulação na sociedade capitalista.
As fobias contemporâneas, como reflexos das angústias da sociedade capitalista, exigem um olhar crítico e reflexivo. É necessário compreender as raízes socioeconômicas desses medos e ansiedades para buscar soluções que promovam o bem-estar individual e coletivo.
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Através da psicanálise, da educação crítica e da construção de políticas públicas que combatam a desigualdade e a exclusão social, podemos construir uma sociedade mais justa e menos ansiosa, onde o medo não seja o principal motor das relações humanas.
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