Olhar Filosófico
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Foi Cícero Monteiro, meu professor de Filosofia no Colegial, que me inspirou a seguir sua profissão, o magistério, e a buscar ser o filósofo que tento ser. Entre as provocações que promovia em aula, disse-me uma frase que, desde então, pareceu-me emblemática: A Filosofia não me deu dinheiro (que não quero, mas preciso!), não me deu reconhecimento (que não preciso, mas quero!)... No entanto, me deu papo pra caramba! (sic) Lembro-me dessa frase por dois motivos: primeiro, como fica claro, ela nunca mais saiu dos meus pensamentos; segundo, revela, de forma simples, parte da essencialidade da Filosofia, qual seja, o Diálogo. Como bem lembra o filósofo Juvenal Savian Filho, “Na atividade filosófica, o filósofo pode chegar a novas interpretações de nossa experiência de mundo, assim como pode renovar antigas interpretações. Mas, antes de tudo, ele é um especialista da argumentação e da demonstração. Como sua atividade é sempre feita em diálogo com outros pensadores, cientistas, artistas etc., ele desenvolve a habilidade própria de analisar a maneira como argumentamos para justificar nossas certezas e opiniões.”
E para o bom encaminhamento de qualquer diálogo, é fundamental que as partes que estão a se interpe(ne)trar em imagens e conceitos, ponham-se em acordo para com as regras do debate pretendido para a argumentação fluir com honestidade e clareza. O filósofo (sempre um pesquisador) acaba, assim, tendo também que ser uma espécie de criador e mediador de conceitos, das palavras benditas, ao contrário de toda palavra maldita!
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Segundo os filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari, “o filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência (...) Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia. É porque o conceito deve ser criado que ele remete ao filósofo como aquele que o tem em potência, ou que que tem sua potência e sua competência.”
Por isso, reforço, é necessário, antes de tudo, na filosofia (e em pesquisas outras também) explicitar quais regras, métodos e modos lançamos mão no intento sempre presente para as possibilidades em abrir caminhos corretos a respostas futuras de outros tantos pesquisadores que venham a compartilhar do mesmo tema ou correlatos. A cordialidade e a clareza fazem progredir o conhecimento humano.
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Como na luta de boxe, por exemplo, elas são claras: sem dedos nos olhos, sem golpes abaixo da cintura, não bater no adversário caído ou após intervenção do juiz ou do gongo e jamais golpear a nuca do oponente. Produzimos saberes e fazemos ciência como se lutássemos boxe, e isso já é um começo, mas não é tudo. Afinal, muitas vezes, principalmente nas ciências humanas, temos de dar ‘reviravoltas’ metodológicas para, no meio do processo, da luta, contemplarmos cada vez mais a complexidade do objeto em sua relação dinâmica com o(s) sujeito(s) da(e) pesquisa. A clareza das regras metodológicas é fundamental, mas a inteireza do método e seu processo também o são.
Em educação, uma vez que todo fenômeno a ser investigado é portador de uma complexidade que quase não permite identificá-lo isoladamente, (por exemplo, a má qualidade do ensino é resultante dos baixos salários docentes, formação docente, da ausência de estruturas físicas adequadas às aulas, da gestão pública da carreira docente, da família não educadora, etc.), faz-se necessário que se especifique, dentro de todo objeto de estudo, o método, as suas regras e as maneiras que julgadas necessárias para, como disse, abarcar um fenômeno complexo a se realizar no âmbito da educação geral e formal (em perspectivas internacional, nacional ou local e suas interfaces).
E no que diz respeito ao paradigma mais geral, para todo intento a ser construído, gerado para o futuro como novidade e avanço, seja clara a necessidade permanente de se partir ao (ainda) desconhecido: “Parto!/ Ante o mais do igual, parto!/ Pois a alma pede/ A vontade é minha/ A necessidade é minha/ Minha a complexidade/ Os sustos sãos meus.../ Parto!/ É assim que se nasce!”
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