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Este texto é sobre um garoto gordo e suas chuteiras. Parece-me assim de bom tamanho. Ou o início de uma peça teatral que você desconhece mas não pode desmenti-la. Ele não tem traumas. E não te cabe aqui uma busca pelas profundezas da mente do menino. Nada. Good boy. Um garoto gordo, suas chuteiras e logo logo adiantarei um fato que, mesmo ansioso, você não poderá negá-lo. Que chame de fútil ou sem propósito, pouco importa. Vago na possibilidade sem provas de contradição. Um garoto em Janeiro. Passou de chuteiras e você, leitor, não sabe nada ao certo, mas tem que admitir a probabilidade apresentada. Eu narro, você critica, mas tem que aceitar que poderia ser. Talvez o garoto nem importe, nem sua gordura, nem as chuteiras. Talvez a história seja uma das mal contadas (do meu teatro) que sei que suspeita.
No dia 25 de Janeiro próximo, vi meu passado passar por mim. Primeira pessoa do singular. Futuro do pretérito de um tempo sempre presente, foi-me concedida a mania de ser. Primeira pessoa singular. Singular!
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Se todas as coisas se repetem, repito sempre o mesmo epílogo, ainda que a cena final não se resuma às personagens do caos. (O coro faz eco de silêncio).
Não me vi tão apurado ou em apuros, só pressenti o dia depois do hoje e basta. Não pude segurar a ternura que me comovia, assim, como, a tristeza quase (substantiva).
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(Agora, em seguida, leia minhas dicas como se fossem mudar sua vida):
Quem caminha sempre alcança um objetivo que não queria, pois destino não existe e estrada se faz pela beira. Nas variáveis do agora, a essência encobre a existência e compõeo infinitesimal das escolhas possíveis. Ao redor do redemoinho, o vento ainda é brisa e no frio da chuva miúda, a flora se refestela. Rosa dos ventos, o girassol.
Jaz. Jazz. Ritmo e fim, afins. Meu momento não era sombrio. Onde tudo é momento, a eternidade já é um fato. E retorna. E retorna. E retorna. Uma hora é preciso um arremate, mesmo sem finalidade clara, sem a objetividade divina (suposta).
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No espelho frente a frente, o reflexo me afligia. O amanhã. Essa entidade iluminada. O amanhã. Na expectativa já nascente e mantido o fato do depois. O amanhã! Um Sol para cada lombo e uma sensação fabricada na memória.
Eu vi sobrevoando-me esse amanhã. E fui à forra semi desfalecido. E cumpria uma justiça distópica. Como a do garoto gordo de um tempo, jogador de chuteiras grossas, para outro de um tempo disfarçado, gordo burocrático e robótico. Funcionário. Panaca sem flutuadores em meio ao rio de acontecimentos que, continuamente, pouco diziam-lhe respeito, no dia 25 de Janeiro próximo. (Aqui ele poderia ser uma personagem ou composição da sala, como aquele vaso ganho no bingo pela sorte insensata de sua avó ultraconservadora).
Não me chame a fera! Fera-me, basta! A besta que sempre interpela!
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(Vê? O garoto já sumiu. Mas como o anunciei, você continuará pensando nele, pois agora ele parece te espiar em seus pensamentos confusos e rir de suas sobrancelhas). Que fique claro que eu não sou o garoto, nem o ente crescido depois daquela infância. Minha experiência é singular, daquele que escreve para expressar o inaudito.
Tudo ainda é um pouco do que me sobra sobre os ombros. Não que reclame. Engolido permaneço intelecto. Risos frente à multidão. Fera-me! Não grites ainda, a quietude é a dádiva das pedras.
Eis a fábula. Faz-se a revista, revisite-se o trauma (só uma quebra).
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Uma grande raposa, que já não se alimentava há dias (pobrezinha!), observava um imenso galo beber água num pequeno riacho.
Usando de esperteza (sã), a raposa caminhou a passos lentos para tentar chegar ao galo e influenciá-lo numa marota conversa.
O galo percebeu a aproximação, mas não tomou qualquer atitude de reação frente à desenvoltura da raposa. Imperturbável. Quase um estoico psicopata. (Aqui o coro acenderia e apagaria as velas para fazer sentir o cheiro de breu. E aquela fumacinha que dança no escuro).
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A raposa, impressionada com a atitude do galo, deu mais alguns passos e disse:
- Não percebeste que sou uma raposa? (pobrezinha!)
- Sim, e daí? - respondeu o galo.
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- Como e daí?! Vou direto ao ponto: Minha intenção é comer-te não vês?! (pobrezinha!)
- Sim, e daí?
- Por que não correste, pulaste...? - insistiu a raposa (compassiva e racional). Eu na plateia, começo a cantar baixinho aumentando o som: Kant, Kant, Kant, Kant…
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E o galo, enquanto pensava em silêncio que “o absurdo salvará aquele que estabelece alguma vontade para si”, lançou mão do argumento irretocável, rude e anti romântico:
- Porque percebi justamente que estas faminta e, no ciclo natural, a raposa se alimenta também de galos, e em minha condição te servirei de alimento e vida, essa é a caridade dos bichos! Sacrifício e retorno aos princípios. (PREPOTENTE!! HIPÓCRITA!!)
- Como queiras - disse a raposa.
E numa abocanhada só, engoliu o corpulento galo. Fim! Final da história das vidas de Gallus gallus e Canídeos, Homo sapiens e Homo sapiens sapiens demens.
E será, posteriormente, tudo isso revivido, até o desvario de uma nova contemplação do imenso vazio daquele 25 de Janeiro próximo.
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