Olhar Filosófico

Febre que passa: sê filósofo

Continua depois da publicidade

Hoje e por hoje, não que seja indiferente às desmesuras e desventuras das ações dos humanos, a verdade é que as tenho como leitura, livro aberto, ironia e, por que não, aprendizado.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Hoje e por hoje, não que tenha vocação a ser guru, muito pelo contrário, seria triste se elevado fosse a tal condição de embuste, afinal, essa expectoração de quem tudo acha que é de seu, na expectativa projetada ao néscio que tem no vício de acreditar a autoestima deficiente.

Continua depois da publicidade

Hoje e por hoje, não que se queira um mal, só quero o espaço dilatado para o meu querer, quem sabe, se deitar tranquilo no acaso do espaço e sorrir em meio à tempestade.

Hoje e por hoje, não que também seja poeta, pois desfiz a métrica de tentar a estética do som e texto no entroncamento das horas certas. Larguei a sintaxe e os morfemas, o verso livre e a narrativa épica. E não que tenha me calado a mente, mas aquietado a alma pela noite cativa das esperas.

Continua depois da publicidade

Hoje e por hoje, num canto entre caneta, giz e lousa, jaz o professor, essa voz que ecoa eras em salas agônicas que vivem o imediato, se assustando durante as horas que se sobrepõe aos intervalos, as redes sociais de curtidas e cirandas chamadas recreios e horas do lanche.

Hoje e por hoje, sem buscar de soslaio o reflexo das atitudes urgentes que salvam a cara do tapa, o joelho no tropeço antes do chão beijar-se ao corpo. Largo, ainda assim não caio, sustento-me à gravidade daquele que se oferece como herança direta de australopithecus, de homo habilis, homo erectus e homo sapiens, sapiens sapiens e demens, é claro, que se diga, que se diga, sempre!

Hoje e por hoje, o silêncio ecoa. E se filósofo me tornar, renasça em mim como o ázimo para alimento. Filósofo que me espreita, mas não toma posse. Agora, então, que tome forma. Não como mágica, nunca, mas Apolo como cosmos e graça que duela e se congrega com Diôniso no caos. Como Nietzsche e seu bigode confessor do homem e Zaratustra confessor da alma:

Continua depois da publicidade

"Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo: tendes ainda caos dentro de vós. Ai de nós! Aproxima-se o tempo em que o homem já não dará à luz nenhuma estrela. Ai de nós! Aproxima-se o tempo do homem mais desprezível, que já não sabe desprezar a si mesmo. Vede! Eu vos mostro o último homem. “Que é amor? Que é criação? Que é anseio? Que é estrela?” — assim pergunta o último homem, e pisca o olho. A terra se tornou pequena, então, e nela saltita o último homem, que tudo apequena. Sua espécie é inextinguível como o pulgão; o último homem é o que tem vida mais longa. “Nós inventamos a felicidade” — dizem os últimos homens, e piscam o olho. Eles deixaram as regiões onde era duro viver: pois necessita-se de calor. Cada qual ainda ama o vizinho e nele se esfrega: pois necessita-se de calor. Adoecer e desconfiar é visto como pecado por eles: anda-se com toda a atenção. Um tolo, quem ainda tropeça em pedras ou homens! Um pouco de veneno de quando em quando: isso gera sonhos agradáveis. E muito veneno por fim, para um agradável morrer. Ainda se trabalha, pois trabalho é distração. Mas cuida-se para que a distração não canse.

Ninguém mais se torna rico ou pobre: ambas as coisas são árduas. Quem deseja ainda governar? Quem deseja ainda obedecer? Ambas as coisas são árduas. Nenhum pastor e um só rebanho! Cada um quer o mesmo, cada um é igual: quem sente de outro modo vai voluntariamente para o hospício."

Hoje e por hoje, e se filósofo me tornar ainda, sou Marco Aurélio, estoico imperador de si frente a sempre pungente Fortuna Imperatrix Mundi. Tento, que seja, sem tentar à vontade para que não me tome de repente e viole essa estranha calmaria do espírito que ri sem casa como causa de todo um tempo: “Não te distraiam os eventos surgidos de fora; arranja vagares para aprenderes mais algo de bom e para de voltear. Guarda-te também, doravante, de outro desvario; desvairam, com efeito, aqueles que, ao cabo de tantas ações, se enfastiam da vida e carecem dum alvo para onde orientar todos os seus impulsos e, numa palavra, as suas cogitações.

Continua depois da publicidade

 

Dificilmente vemos alguém sofrendo por não ter observado o que se passa na alma de outrem, mas por força há de sofrer quem não anda atento às comoções de sua própria alma.

Deves sempre lembrar qual a natureza do universo, qual a minha, qual a relação entre esta e aquela, qual parte sou de qual universo e que ninguém te impede de fazer e dizer o que é consequência da natureza de que és parte. (...)

Continua depois da publicidade

Mesmo se houveres de viver três mil anos ou dez mil vezes esse tempo, lembra-te de que ninguém perde outra vida senão aquela que está vivendo, nem vive outra senão a que perde. Assim, a mais longa e a mais curta vêm a dar no mesmo.”
Febre que passa: Sê filósofo! Febre que passa febre: Sê filósofo!

 

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software