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Como torcedor e amante do futebol, acredito que três pilares sustentam a magia que atrai tantas pessoas a esse balé de gestos contraditórios, repletos de leveza e indelicadeza, entre a agonia e o êxtase.
O primeiro e mais importante pilar é a esperança, uma das coisas mais lindas também presente no futebol.
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Essa esperança se consuma numa explosão de gozo na possibilidade da vitória mesmo diante de um cenário real que escancara a mais provável derrota. A expectativa comanda nossas emoções diante desse esporte singular. Numa partida, é fundamental ter esperança. Torcedor sem esperança não é torcedor. O mais realista dos analistas de futebol, quando comenta, e muitas vezes com razão, contra o mal desempenho, a politicagem e as maracutaias que envolvem o seu time e seus atletas, sucumbe à emoção e à indomável esperança dos apaixonados diante de um jogo do seu clube. Ir da alegria à raiva num piscar de olhos dá mais prazer a ele do que a melhor análise fria e racional que venha a fazer no dia seguinte.
Se levássemos para fora do campo e das arquibancadas essa mesma força teimosa que nos sustenta enquanto torcedores associada à satisfação do simples fato de contemplar e fazer valer como encantamento um conjunto de grama, concreto, ferro, apitos, pessoas e bandeiras, estaríamos, talvez, todos e todas, no mesmo patamar daqueles que lutam e sonham com um dia melhor e mais justo, daqueles que defendem o respeito às diferenças e buscam maneiras de viver e deixar viver respeitando a uma só regra, a defesa intransigente da dignidade de toda vida humana.
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O segundo pilar dessa magia chamada futebol é, sem dúvida, a emoção.
Nos emocionamos ao torcer. Quando queremos e imaginamos o gol, cantando as músicas parodiadas ou inventadas dignas de gritos de guerra de uma quinta série criativa e ensandecida ou, ainda, quando ousamos narrar os passos, pulos e corridas do herói da partida tal qual Homero dizendo com beleza ímpar o que nos faz tremer e temer ainda hoje sobre o herói das batalhas, “Canto, ó deusa, a cólera de Aquiles”.
A emoção é o sangue que jorra enquanto magia e nos desloca do tempo pretérito para o tempo do aqui e do agora. Estamos inteiros quando emocionados. Controlar as emoções não deve significar diminuí-las, mas ajustá-las a um sentido que nos preencha enquanto seres. No jogo, na partida vista e vivida, estamos íntegros e devotados, não a um santo ou santa ou até mesmo a um deus, mas ao nosso ser em floração, numa espécie de primavera no peito e um furacão na alma.
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Sem emoção, o que sentiríamos diante da indizível beleza travestida de cores, danças, rezas, gritos e silêncios?
O terceiro e último pilar dessa arte chamada futebol é, por incrível que possa parecer, a matemática.
O toque bonito ou por acaso, a defesa bem-feita ou sem querer, o carrinho certeiro ou desengonçado, enfim, em tudo que envolve essa figura geométrica chamada campo, quadra, rua ou praia, buscamos uma lógica para tomar de razão nosso espírito que tudo quer entender e explicar.
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O passe sob medida é descrito dessa forma, pois, matematicamente aceitamos que foi perfeito. Até para determinado tipo de gol gritamos a plenos pulmões o amor à matemática, no ângulo! Como se já, intuitivamente, descrevêssemos o acerto da bola no ponto de partida de um conjunto de pontos formados por duas semirretas.
O cronômetro é a expressão máxima da medida do tempo que comanda o espetáculo como um imperativo da razão que tudo vê. Não à toa, entre os mitos gregos, Cronos devorava os seus filhos como prova real de seu domínio.
Às vitórias e empates somam-se pontos, quem perde não tem nada.
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Entre retas, curvas e parábolas, a bola é uma esfera, e se rola mal, chamamos quadrada.
* Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor
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