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Coro: Ó Poeta, você sonhou novamente?
E ele cambaleante disse Sim, de retorcer o corpo e a mente.
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Coro: Conte-nos, então, ó poeta, como se deu e como se sente!
Vi uma história sendo escrita bem ali na minha frente. Era uma história dessas, de bichos, ideias e gentes.
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Coro: Estranho, escritor de versos, o que dizes com isso?
Na pena, a mão que segurava tranquilamente, não tinha dedos, levava um martelo, um prego e um tridente.
Coro: seria Poseidon, o rei dos mares aparecendo repentinamente?
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Não me pareceu, ó vozes angustiantes, assim, primeiramente. Cheguei mais perto, apertei os olhos forçadamente.
Coro: E, então, poeta do caos, de sensibilidade latente?!
Descobri se tratar de um homem mediano, de espesso bigode e olhar envolvente.
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Coro: Fale-nos sobre ele, poeta de todos, poeta que mente!
Antes que o diga diretamente, percebi tratar-se de uma fábula sendo escrita. No entanto, não era Esopo, o fabulista, que eu via, mas Nietzsche, o fabuloso, é quem surgia.
Coro: Ó! Ó! Não pode ser maior a ousadia, pois de um "a moral da história", do outro a rebeldia. Ó! Não pode ser!
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E de fato era, é, foi, pois só posso repetir o que se sucedia. Se minto?, deixo à escolha daqueles que me desafiam. Seriam vós, ó vozes de um dia, provocando minha mais potente energia, a voz que minha boca grita?
Coro: Jamais, jamais, poeta das maravilhas, somos musas e serviçais e de Zeus somos filhas!
Que bom que assim seja, conto-vos por isso a tal narrativa. Ei-la:
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Uma grande raposa, que já não se alimentava há dias, observava um gordo galo beber água num pequeno riacho de água pouca e tranquila.
Usando de esperteza, a raposa caminhou a passos lentos para tentar chegar ao galo e influenciá-lo numa conversa marota, numa lorota vazia.
O galo percebeu a aproximação, mas não teve qualquer reação frente à desenvoltura da raposa. Coragem teria o galo? E de estranheza se espantou a raposa.
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Deveras impressionada com a atitude do galo, deu mais alguns passos e disse:
- Ei! Ei! Ei! Não percebeste que sou uma raposa?
- Calma, não estou surdo! Sim, e daí? - respondeu o galo.
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- Como e daí?! Não lhe passou pela cabeça que minha intenção talvez seja comer-te?! Não suspeitais?!
- Sim, e daí? - devolveu o galo.
- Por que não correste, pulaste? - insistiu a raposa entre a dúvida e a perplexidade.
- Porque percebi justamente que estais faminta e no ciclo natural das coisas, as raposas se alimentam também de galos. E em minha condição te servirei de alimento, essa é a caridade dos bichos!
- Estranho, senhor galo! Quer me superar pelo martírio? Saibas que não sou religioso e não ligo para as desventuras desses ritos.
- Imagina, dona raposa, também não faço da minha fraqueza religião. Pergunte a Esculápio, nosso irmão!
- Que irmão que nada, quem é esse larápio?
- Enfim, dona raposa, esqueça meu vocabulário. Vamos à caridade dos bichos.
- Como queiras - disse a raposa.
E numa abocanhada só, engoliu o gordo galo.
Moral da história: A história é moral?
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