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Desde a origem do conceito de educação, derivado ocidentalmente dos gregos, não chegamos a um acordo tácito, não que isso seja ruim, a respeito de como se educar. Fato é que criamos instituições que assumiram este papel e catalisaram formas que partiram e partem sempre do princípio de que educar é uma transmissão ininterrupta de saberes, por meio de conteúdos específicos (como as disciplinas) ou não (como assimetria de temas e problemas), presentes na cultura, pretensamente universal, necessários à humanidade para o conhecimento de si mesma, da natureza e de ‘seu’ Cosmos. Como diz o grande historiador da Filosofia, Nicola Abbagnano, em seu famoso Dicionário de Filosofia, ao tentar se aproximar do conceito inicial de Paideia entre os gregos: “Em geral, designa-se com esse termo (Educação) a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão [e de corrigi-las e aperfeiçoá-las] chamam-se educação.”
E não poderia deixar de fazer constar e aprofundar esse conceito de fundamental importância à formação do pensamento Ocidental. Segundo o filósofo e historiador alemão, Werner Jaeger, um dos maiores nomes (senão o maior) quando se trata do estudo da ideia da cultura helênica, em sua obra monumental “Paideia”, “os gregos viram pela primeira vez que a educação tem de ser também um processo de formação consciente. 'Constituído de modo correto e sem falha, nas mãos, nos pés e no espírito', tais são as palavras pelas quais um poeta grego dos tempos de Maratona e Salamina descreve a essência da virtude humana mais difícil de adquirir. Só a este tipo de educação se pode, com propriedade, aplicar a palavra formação [Paideia], tal como a usou Platão pela primeira vez em sentido metafórico, aplicando-a à ação educadora.”
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Os gregos, portanto, foram os primeiros exemplos de educação/formação que a chamada Europa, até então conhecida, legou para si e para suas futuras colônias, como o caso brasileiro ora em questão. É claro que aqui abro um parêntese para não me alongar nas nuances que disseram e dizem respeito a esta primazia grega, como discorrer, por exemplo, sobre como a educação passou a ser entendida e se fez presente de determinadas formas nos países colonizados. Trago à luz, simplesmente, do princípio de como a Europa se moldou em essência às formas gregas de educação.
Fato é que a nossa educação escolar por parte de nossos dominadores europeus, representados aqui pelos portugueses, vem de uma raiz grega, repleta de pormenores. Aliás, pormenores e intercorrências que passarão por diversas 'novas' roupagens já durante a chamada Idade Média e, principalmente, no que tange a nós brasileiros, percursos e intercursos, a partir de uma Renascença tardia. A crise vem de longe e a Europa sequer é um exemplo de educação para a atualidade. Precisamos sim, aprofundar e sempre atualizar as teses e as práticas de Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Ernani Maria Fiori, Darcy Ribeiro e tantos outros geniais filósofos e antropólogos da educação brasileira e latinoamericana. Educarmos sempre, mas de cá pra lá!
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