Olhar Filosófico

Educação sem pesquisa é achismo

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Partindo de uma leitura histórica acerca da pesquisa educacional no Brasil, Bernardete Gatti (pedagoga pela USP, Doutora em Psicologia - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot, com Pós-Doutorados na Université de Montréal e na Pennsylvania State University), uma das maiores pesquisadoras do país no que diz respeito à formação docente, ajuda-nos a compreender os impactos e influências das pesquisas em educação no que se refere à sua prática.

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A partir de sua ótica e análise, o que se percebe é que a pesquisa em nossas terras é por demais recente e, no campo educacional, é ainda historicamente incipiente, uma vez que foi apenas em 1937 que o INEP foi criado (Instituto Nacional de Pedagogia - atualmente Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira”), passando a estimular pesquisadores da área a desenvolverem e/ou agruparem metodologias sobretudo de caráter empírico. 

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Nesse primeiro movimento, por assim dizer, pesquisador, o enfoque é, basicamente, “psicopedagógico” de caráter técnico-positivista, com análises de seleção, distinção e quantificação de práticas.

No decorrer das décadas, os interesses científicos vão se modificando, ora considerando e ampliando o enfoque anterior ou, ainda, desqualificando-o e almejando inovar. Assim, nas décadas de 50 e, principalmente 60, surge um interesse acerca dos impactos dos fenômenos culturais e econômicos na educação. 

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As mensurações de caráter mais tecnicista voltam a vigorar pelos idos dos anos 70, todavia agora trazendo à tona as questões de programas, currículos, profissionalização etc., seguindo até o início dos anos 80, quando, ainda em virtude da ditadura cívico-militar brasileira, com a continuação do cerceamento de liberdades individuais e de classe, surge com força prevalente a crítica social de viés mais “progressista”, fazendo, inclusive, ecos importantes de seu desenvolvimento nos variados meios universitários e instituições de ensino do magistério, estas, se estruturando em torno da prática de pesquisa-ação como um dos fundamentos do ensino superior e institutos educacionais formativos. É marcante o papel da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - criada em 1978) para a expansão da pesquisa em durante este período.

Nos anos 90, na abertura que findava o período ditatorial, a pesquisa educacional, agora mais robusta de métodos e análises, se diversifica em campos específicos que não necessariamente dialogavam entre si, como educação infantil, ensino superior, avaliações, alfabetização, ensino básico etc.

Por fim, é de se perceber que a pesquisa educacional esteve, na maior parte das vezes, aprisionada à ideologia do grupo político-empresarial da vez (todos burgueses ao seu modo) e maneirismos estrangeiros, mais garantidores de status e títulos aos seus pesquisadores de forte influência europeia do que voltados para o contexto e razoabilidade de transformações possíveis na realidade educacional brasileira. É daí também que vimos nascer as hegemonias se formando dentro dos centros de pesquisa universitários, formando pesquisadores conforme suas próprias demandas.

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Era, portanto, inevitável o confronto entre métodos, técnicas e linhas de pesquisa, o que, de certa forma, trouxe possibilidades de se avançar na pesquisa-ação. Nos dias atuais, a discussão se encontra na heterogeneidade metodológica e de suas técnicas, colocando em evidência que a pesquisa em educação se faz no embate e no debate. O que se mostra hoje com um pouco mais de evidência, é a busca de um campo próprio para não mais, “despercebidamente”, assumir como pedagógicas teorias e métodos oriundos de outras áreas do conhecimento humano.

Devemos, penso eu, ainda mais em tempos sombrios de desregulados EaD (Ensino a Distância), voltarmo-nos com maior profundidade à reflexão dos fundamentos da própria pesquisa em educação - filosóficos, metodológicos, técnicos, políticos, econômicos etc - , uma vez que ainda é forte nas universidades, numa lógica de “produtivismo acadêmico”, a formulação de teorias e/ou hipóteses sem relevância sócio-histórica ou de duvidosos levantamentos e interpretações de dados, que formam mestres e doutores de estante de biblioteca. E quem é que chega na sala de aula? Carne, sangue e conhecimento ou as estatísticas do nosso vazio?

 

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