Olhar Filosófico
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Platão, filósofo grego do século IV a.C., dentre tantas obras e escritos monumentais deixados para a “fundação” do Ocidente, nos legou, por dentro de sua obra máxima “A REPÚBLICA”, uma passagem que se converteu num hino geral para toda metáfora sobre o conhecimento e seu poder libertador.
Essa passagem ficou conhecida como ALEGORIA DA CAVERNA. Embora muitos a invoquem sob o nome de MITO DA CAVERNA.
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Mito e alegoria são expressões da linguagem que possuem quase a mesma compreensão. Porém, como em toda frase que utilizamos o “quase”, mais destacamos diferenças do que semelhanças.
Mito é uma narrativa fantástica, oriunda originalmente das culturas de tradição oral, que tem por objetivo uma explicação de fatos e feitos da realidade por meio de figuras sobrenaturais e/ou antropomorfizadas da natureza. O mito em si não é a religião a, b ou c, mas, inegavelmente, toda religião possui em seu corpo histórias míticas.
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Alegoria, por sua vez, é toda expressão figurada que busca, sempre por meio da criatividade simbólica da linguagem, entre formas, desenhos e cores, um entendimento sobre uma ideia, uma reflexão, aspectos éticos e morais ou uma compreensão total da realidade.
Platão, portanto, em seu escrito, trabalha em forma alegórica e não mítica.
E o que nos diz tal narrativa? Que compreensão nos traz sobre o real, o imaginário e o verdadeiro? Por que tal escrito, conhecido como a carta (ou capítulo) VII dessa obra magna platônica inspirou, inspira e inspirará muitos daqueles que buscam uma compreensão certa e consoladora sobre a relação entre inteligência e liberdade?
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É claro que tais respostas, por mais que eu possa possuir a pretensão de tê-las, me fogem e muito, posto que no campo da interpretação alegórica, ainda que levando em consideração o contexto e a letra do autor no conjunto de sua obra e pensamento, um universo de possibilidades se abre restando a todos nós apenas sinais para a saciedade da nossa curiosidade.
Fato é que Platão a insere no momento em que buscava uma forma de explanação para aquilo que havia dito sobre, principalmente, o processo de aquisição de conhecimento.
De forma breve, posso dizer que, basicamente, Platão havia deixado claro a sua compreensão de conhecimento verdadeiro. Ele se daria com o acesso intelectual/racional, por meio de um processo dialógico de contraposição de teses que teria como finalidade chegar a uma síntese (o que ele daria o nome de dialética), às formas (ou ideias) universais que regem a humanidade no que diz respeito a todas as coisas, desde o mundo inanimado a, praticamente, o divino. Ou seja, tudo aquilo que existe (e não ouse tirar nada desse tudo!) e é por nós percebido e sabido, existe antes como forma, como ideia.
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Nossa alma, mente, razão (ou logos, como diriam os gregos) é o único meio para entendermos a correspondência entre aquilo que é verdadeiramente real e o que chamamos de realidade (o que tocamos, sentimos e agimos). Antes da existência do primeiro humano, por exemplo, já existia a ideia de humanidade. E quando definimos corretamente (e a prova se daria por meio do processo dialético que citei acima) o que seria um humano, teríamos chegado a uma verdade universal que nos explica a todos.
E a Caverna? Pois bem, presos a uma caverna, jogados e acorrentados entre suas paredes, assim, a maioria, estamos vivenciando a realidade. Nos acomodamos a um processo alienante que não nos leva ao questionamento e nem, consequentemente, à liberdade, uma vez que ACREDITAMOS no mundo como vemos geração a geração. Mas eis que um de nós se percebe prisioneiro, ignorante e avança para aquilo que parece ser a saída daquele espaço que, só então, entende se tratar de uma caverna. Ao sair dela, a luz intensa do sol (esse astro que em tantas culturas representa a claridade do saber) o cega por um instante para logo em seguida dar-lhe a chance de contemplar realmente aquilo que dentro da caverna eram apenas sombras!
Da ignorância para a sabedoria estaria o caminhar da nossa liberdade. O conhecimento seria, assim, o único meio de libertação humana de todas as amarras que nos envolvem, criadas ou não por nós. Quem conhece diz eu sei (ou devo e poderei saber) e não simplesmente amém (ou assim seja, eu aceito).
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Um detalhe que faz toda a diferença nessa alegoria de Platão é a demonstração daquele que se liberta sempre pagará um preço alto frente à sociedade majoritariamente ignorante e alienada em que se encontra. Onde cegos se matam por um cego poder e vivem por viver, sem buscar saber quem são, onde estão e para onde vão.
Mais de 2400 anos e a alegoria da caverna ainda nos assombra! E você, já saiu da caverna? O que te prende? E eu? Voltemos a Platão!!!
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