Olhar Filosófico

De amor, matar ou morrer

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A única justificativa cativa em meu pensamento tormento para que se por um acaso possa se morrer de amor, é em dor, perda e clamor, pois, antes de tudo, antes do todo, foi-se o que amou.

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De amor, portanto, pouco se morre, mas com amor, enfim, nunca se mata! É claro que depende do que por amor estamos tratando e como por ele nos acreditamos tratados.

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Na cultura da qual somos parte espelhada, o amor é parte de três partes que sozinhas já se definem e juntas se encontram mesmo fora do sinônimo.

No ocidente perrengue que habitamos como moradores das dores, do lado de baixo da barragem (que fique límpido meu som e concreto meu pensar), sempre, onde a labuta é a vida “e a vida é o trabalho/ e sem o seu trabalho / um homem não tem honra / e sem a sua honra / se morre, se mata/ não dá pra ser feliz”, amor ainda (ainda e ainda sempre) é doação, êxtase e felicidade.

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Desde tempos imemoriais se narram para além das nuvens dos conceitos, essas artimanhas da linguagem, os símbolos mitológicos ou proféticos de todo advento, nascimento, aparecimento de um tempo novo de espaço indefinido, mas justo e gerador do amor. Amor é todo natalício, doação, gratuidade.

O ato de alguém amar amar alguém, arte, coisa ou acontecimento, entrega o momento presente ao deus dará, pois o amor prevê e provê, assim, direto e reto, como planta na terra, casa e teto, abismo e abstrato, conhecimento e construção de soluções rápidas, práticas e certas. Sensação essa do amor doado, gratuito e ágil na configuração do encontro.

Para seres repletos e inacabados, moldados pelo paradoxo e o acaso, “amor é um fogo que arde sem se ver/ é um não querer mais que bem querer/ é um andar solitário entre a gente/ é nunca contentar-se de contente/ é um cuidar que ganha em se perder.”

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Por isso, pouco entendemos do seu chamado, mas agimos na primeira hora, pois essa vivência supera o entendimento e adia a morte, dá senso de bom gosto e beleza de admirar sem pressa, como exemplo, de tempo em templo, sentimento de perder-se estando achado. Crianças, crianças, somos quem? Como se “antigamente quando eu me excedia/ ou fazia alguma coisa errada/ naturalmente minha mãe dizia/ ele é uma criança, não entende nada/ por dentro, eu ria/ satisfeito e mudo/ eu era um homem/ e entendia tudo/ hoje só com meus problema/ rezo muito, mas eu não me iludo/ sempre me dizem quando fico sério/ ele é um homem e entende tudo/ por dentro com/ a alma atarantada/ sou uma criança/ não entendo nada.” Crianças, crianças, somos nós mesmos e o amor a fazer a trilha?

Em passada larga, olhos de pente fino, zás-trás, então, ali o amor que era se deixa, mas permanece o que foi e se transmuta, doado doa sentido e sentido vai transviado. Êxtase! Êxtase! Êxtase! Se gritassem assim os jornaleiros no tempo que se gritava Extra! Extra! Extra!, não dariam notícia, dariam fruto, sabor, tempero, abraço e respeito, tudo que na vida é certeiro como o alvo que busca a flecha, e não o contrário quase sempre verdadeiro. Joga o jogo certo mas as regras mudam nas estações, o céu é o limite, então o corpo é a passagem, pois quem se joga não sabe, mas crê e quem fica preso nem vê, enquanto “eu lanço minha alma no espaço/ você pisa os pés na terra/ eu experimento o futuro/ e você só lamenta não ser o que era/ e o que era?/ era a seta no alvo/ mas o alvo, na certa, não te espera.”

E outra vez da Grécia ecoa um grito, um jeito, um estrondo ou gemido que define de tudo um pouco, organiza (cosmos) a luta com a dança e o trovão, rebeldes e claros no ímpeto. Felicidade, alegria, satisfação, o amor é amizade e devoção. A inteligência capta o que há de bom e faz do amor laço e virtude, laço como o caminho e virtude de como andar na estrada. Placas de pare, não desbotam a direção, a moral dos “três amigos”, Aristóteles, Sócrates e Platão, sinaliza sempre um sinal verde, siga em frente, às vezes, até estando na contramão.

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O amor foi a cavalo, enquanto Tróia caía, mas não foi do cavalo a espada que reluzia, amor cruza fronteira, peito de Páris e Helena, nada oceanos mas não mata ou justifica, nem em vertigem assume tal afronta.

Se se morre de amor, diria Gonçalves Dias, “amor é vida; é ter constantemente/ alma, sentidos, coração – abertos/ ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,/ d’altas virtudes, té capaz de crimes!/ compreender o infinito, a imensidade/ e a natureza e Deus; gostar dos campos,/ d’aves, flores, murmúrios solitários;/ buscar tristeza, a soledade, o ermo,/ e ter o coração em riso e festa;/ e à branda festa, ao riso da nossa alma/ fontes de pranto intercalar sem custo;/ conhecer o prazer e a desventura/ no mesmo tempo, e ser no mesmo ponto/ o ditoso, o misérrimo dos entes;/ isso é amor, e desse amor se morre!”

Como santo Casaldáliga anunciaria o seu amor como êxtase, entrega e alegria, esse homem que tanto amou e por tanto amar, não morreu, virou flor, “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar.” 

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Por amor se morre, mas, jamais, jamais mesmo, se mata! 

 

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