Olhar Filosófico
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Pela pobreza de minhas linhas, isto seria um livro, mas não é! Ainda assim, é sobre tudo aquilo que sobra nesse mundo de fome e desacato ao bom senso. E o que sobra? O que sobra? O que sobra, hein?! Acompanhe, acompanhe, acompanhe: Ia andando. Só. Estar andando é o que nos interessa.
E andava e se perguntava: Por que a paz e não a guerra? E andando.
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Num caminho estreito, como são realmente os caminhos, avistou um buraco.
Buraquinho desses, com restos de lixo que as chuvas e o tempo não se encarregam de levar aos rios que, por sua vez, levariam ao mar, mais especificamente a estes mares do sul.
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Eis o primeiro buraco: Pois aí estava. E começou a vasculhar as bugigangas. E se perguntou: Por que a paz e não a guerra? Mexeu com certa curiosidade emtoda aquela tralha e montou uma espécie de batalhão de guerreiros naqueles destroços e imaginou tomar os cantos ao redor do buraco, mas se perguntou: Por que a paz e não a guerra?
Foi andando. É sempre tarde em certas ocasiões.
Eis o segundo buraco: Ia andando. Só. Com ideias. Só. Sentiu, no rude caminho que já se ia lá atrás, contudo, à frente também retornando, um buraco que, por impulso ou susto lógico, chamou mentalmente de “dois e meus pêsames".
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Um tanto assustado, enxergava nesse segundo um conglomerado de pequenas ruas, autovias e calçadas. Tirou do bolso um carrinho (que não se sabe de onde surgiu) e ousou brincar pelas vielas até que engarrafou os caminhos, arrumou discussões imaginárias entre motoristas imaginários e riu. E pensou: Por que a paz e não a guerra? Gostou da briga generalizada das avenidas vazias de um carro só. E só, seguiu andando, pois tempo é espaço-passando.
E de longe e com lembranças guardadas, verificou um buraco que, de antemão, psicologicamente o chamou de “suspense”.
Eis o terceiro buraco: “Tantas ruas e buracos, meuZeus.” E nesse encontrou casinhas, como as debonecas de todos os tempos e idades, com inscriçõesnas portas de entrada, “Vende-se, hoje e urgente!”Estranhou. Cheirou de perto com os olhos tudo aquilo.
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Entendeu que, talvez, fosse necessidade. Debandada plástica em massa de onde para não sei quando. De rostos e corpos plastificados, mentes e sonhos conservados em formol e desespero. Mas por quê?
Pensou que talvez as pernas pensassem mais que a cabeça e isso possibilitou que bonecas se desembestassem angustiadas para um novo mundo que, em último caso, seria mais um pedaço de terra em transe.
Nervoso um tanto, gritou contra a situação de silêncio que reinava e endoideceu com as situações de bonecas, bonecos, tempos e espaços.
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Se viu em reflexo, nos viu a todos. Nos viu. Pensou em si. Em todos filósofos e suicidas da criatividade.
E, de novo, por que a paz e não a guerra?
Queria findar andança para caminhar em tom diferente, mais tranquilo. Por que a guerra, a morte, aextirpação de desejos, projetos?
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Eis o quarto buraco: Foi-se dali! Onde ao certo nem lembrava.
Desejou intimamente, mais do que nunca, ir para um lugar onde seria pleno da máxima certeza.
Antes que o caminho se abrisse para virar imensidão, avistou um senhor buraco, que por ordem de consequência, o chamou imaginariamente, de “extremo, quem sabe simples.”
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Chegou como antes, perto com as pernas e ouviu com as mãos aquilo que em princípio não entendeu, o buraco todo vazio. Tocou o buraco oco, eco, nada.
Sentiu medo desse vazio.
E, desejou também, mesmo no medo desejou mais. Só. Transcendeu o contexto e chegou em princípios que, se alguém ali estivesse, entenderia suas razões e vontades. E através do medo, pressão que nunca se sabe ao certo, se civilizou. Um cidadão num homem só é cidadão? O vazio do buraco se foi (talvez), pois era tudo novo a aparecer.
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E quis rever o caminho, caminhar sem destino, falar e se desentender com todos, com todos decidindo um novo entendimento.
Cansado, realizado, perguntou ao vento, por que a paz e não a guerra?
Leu um dia em Tolstói, o maior dentre os deuses bêbados: “Que é que é mau? Que é que é bom? Que deve amar-se? Que é que se deve odiar? Viver para quê? Que é a vida? Que é a morte? Que força desconhecida é essa que dirige tudo?”, ele se perguntava. E não havia resposta para nenhuma dessas perguntas, a não ser uma resposta sem lógica, e que nem mesmo respondia a tais perguntas. A resposta era a seguinte: "Você vai morrer e tudo vai terminar. Você vai morrer e vai ficar sabendo de tudo ou vai parar de perguntar". Mas morrer também era terrível.”
E, por fim, lembrou do vazio (era a esperança?). Era esperança ou expectativa? Esperança? E antes do vento passado, retrucou a si mesmo: Política da paz possível, toda a caminho dos vazios, pessoas plásticas, ruas, lados, territórios, bugigangas dos buracos da alma. Caminho para ser o que se tornaráum dia, tornando-se. Paz possível, que paz? Paz que sempre, ainda, permanecerá como a grande bomba de hecatombes. Por que a guerra? Por que a guerra? Ora, homem, por que a guerra e não a paz?
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