Olhar Filosófico

Bem-vindo ao streaming, estranho

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Vivemos num mundo estranho! E não me refiro aos hábitos e costumes criados por nossos ancestrais, continuados e/ou modificados por todos nós. Falo aqui da nossa sempre atualizada mania, gosto ou vício de se deixar pautar pelos aparatos tecnológicos.

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Somos facilmente tocados pelas técnicas de subordinação presentes em toda organização de poder.

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Para a comunicação e formação cultural, tudo agora é streaming, a nova roupagem da velha técnica de transferência de dados por plataformas multimídias. Velha técnica sim, pois o comércio e a troca de transferência de dados se iniciou antes da palavra escrita. Dos desenhos rupestres aos satélites, só mudou a matéria e a amplitude do alcance.

É verdade também, é claro, que tudo agora mais rápido, tudo mais dinâmico, tudo mais fluido, tudo mais com menos e tudo de menos demais.

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Há tempos, mas já moderninhos igual a fillet de saint peter, se dizia que a maior liberdade para a recepção de dados da invasora televisão dentro de nossas casas, era o controle remoto. Bobagem. Como pode(ria) haver liberdade se os canais são limitados por acordos e licenças para meia dúzia de milionários e vendidos como conceitos prontos e sucesso certo num entretenimento programado? Mudava o terno, o vestido e o batom das ideias, mas o corpo era o mesmo.

E isso, como eu disse, é estranho! Num tempo estranho! E somos, de novo, vencidos pelo cansaço.

Entro no streaming do celular e vejo o que me dão, mas com aquela sensação de que fui eu quem escolheu. Que besteira. A dança dos algoritmos me leva onde o último hit me manda.

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Tudo é click, tudo é kitsch, tudo é touch! Na tela o meu espelho e na alma o desespero.

Entendamos todos nós, oh teleguiados que somos, o “jabá” das frequency modulation é o algoritmo em formato analógico! Digitalmente, virou engajamento. Livrai-vos desse mal! Pensai!

Parte das pessoas, e não só das gerações high-tech, foi direcionada a um só objeto de necessidade: a internet e a exposição que ela proporciona. Essa rede mundial de conexões adjetivo positivo. Tem internet, emoji de carinha feliz, bandeirinha de país em guerra e ódio destilado em fileiras jamais lidas de comentários. Sem internet, the end, game over, dia ruim e de desculpas: - Não pude fazer, nem saber, nem gritar ou ser feliz, estava sem internet, amigo! Sem a conexão, até a cabeça falha e a vida não se assanha. Espalhem wi-fis por todas as cidades e, enfim, nunca mais veremos o céu e as próximas gerações já nascerão com menos cinco centímetros de pescoço e com o queixo grudado no peito.

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Sócrates, o grande filósofo grego, era ironizado, junto a outros seus amigos pensadores, pela imagem daquele que de tanto olhar para cima, não percebia o buraco à sua frente. Hoje, vemos que Sócrates talvez nos alertasse do futuro da humanidade de visão curta que nos tornamos. Afinal, não olhamos para cima, seguimos olhando para baixo e não vendo o buraco que se aproxima com pernas que não andam, mas patinam.

Vivemos tempos criados por programadores e produtos cada vez mais, engenhosa e enganosamente, manipulados para o meu suposto prazer. O capitalismo tem dessas coisas, love story e cases de sucesso.

Falta luz, gás, trabalho, falta escola e até amor verdadeiro, ok, só não nos tirem a internet, só não me cancelem o streaming, só não afrouxem essa corda em volta do meu pescoço.

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É tempo de harmonização facial e Netflix, tempo de guerra no Zeitgeist do You Tube. 

Entre o sintomático e o sinto muito, a vida ficou menos rara.

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