Olhar Filosófico
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Quando foi decidido que as escolas retornariam presencialmente com força e com tudo para uma rotina de sempre, esqueceu-se que a escola é outra daquela imaginada de antes.
De repente, como se já fora o tempo do tempo exato dum jeito certo de aliviar a dor e lamber as feridas, a molecada voltou aos pátios e à estaca zero. É tempo de retomada.
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Entre o André, presente, Bianca, fala menos, Patrícia, cospe o chiclete e Vinícius, sai do celular, seguimos no Vou ligar para o seu pai, Perdi, tia; E a mãe? Tenta a sorte!
Como se não bastasse ou não se refletisse o momento atual, pobre de contatos, tateamos as lousas para entender o que se passa.
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Para quem com educação vive, respira e trabalha, 2022 seria (“bola cantada”) o ano pedagógico mais difícil das últimas décadas.
O problema é que a discussão aprofundada sobre épocas de reviravolta não acontece no por acaso. Papo reto, sério e empático, deveríamos expor os desafios, sentir mais a fundo os problemas e criar meios de sustentação e superação do agora.
E como em educação muita gente acha que entende muito quem entende um pouco, precisamos nos esquivar das falas politiqueiras e dos profetas do empreendedorismo.
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Em terra de ninguém, quem tem um olho cega. E, assim, a gente passa a bola e o jogo segue.
Falo eu, ousado, boca e lápis na palma da mão, na cabeça o olho do furação e nos pés um calo que me aperta, de três pestes que enfrentaremos todos aqueles que permaneceram nas escolas com folga e vantagens ou às duras penas e com hercúlea luta. Com diferenças, mas inevitavelmente.
1ª a peste do isolamento! Os alunos chegarão presos aos mais diversos tipos e meios de isolamentos criados. Salvamos vidas, dever cumprido, mas ignoramos que reaprender a andar exige tempo e paciência, fisioterapia mental e psicologia do corpo. Como pássaro que voa tendo asas de gaiola, passa a entender que a grade é parte da paisagem. Uma energia assim represada, vira pânico, ansiedade e alienação. Como escola, a cura será a ressocialização. Reaprender a viver em grupo, habituar-se ao sentido das regras e obrigar-se a querer ir além. Afinal, isolamento tem cara de útero na hora que o medo vem. Voltar parece caminho, mas em educação, como na vida, só se pode andar pra frente.
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2º a peste da defasagem escolar! Crianças e adolescentes virão com déficits em formatos nunca dantes vistos. Da desatenção às aulas à letra malfeita, esquecida por entre os dedos que digitam rápido, pensam sem refletir e julgam com “likes”, enfrentaremos uma das mais duras batalhas nos mais diversos processos de ensino-aprendizagem. Aprender a aprender também é fenômeno passível de esquecimento. A cura será a diagnose, a desaceleração e a revisão do conteúdo a ser memorizado durante a pressa da meta a ser cumprida. Da caligrafia à tabuada, o respiro será a medida exata. Trabalho coletivo, sempre, com experiência e troca de feitos e dados.
3º a peste da violência! Existe uma bomba pronta a estourar. Das redes sociais para os bodes expiatórios da turma, passando pela automutilação, renovados “bullyings” surgirão como piadas em busca de afirmação social; e, ferindo-se todos, machucados machucarão machucados, isolados isolarão isolados. A cura será (e sempre será) a cultura da paz. Desfazer o mal pelo bem num tempo de retomarmos um corpo forte, docente e discente. Novas amizades e amplitude de horizontes para superar as brechas do grito e da força bruta.
Uma chaga ainda permanecerá, fato político de um país desigual: Os professores, que estão (e sempre estiveram) na linha de frente para a garantia da mínima, básica ou ultra cultura formal, de iniciação científica e desenvolvimento humano dentro das mais diferentes escolas do Brasil, uma vez mais, serão castigados pela velha classe mídia, cheirosa classe abestada, de preguiçosos pelo saber, desejosos da “bufunfa” e turistas “tik tokers” de Dubai, a ditadura de estimação do nosso burguês cara-pálida.
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E a grande aberrante chaga, será a evasão escolar e a desistência de grande parte de nosso alunado que, vivendo o derretimento do país e estando nas esferas econômicas mais exploradas da sociedade, precisarão, outra vez e sempre, ir à luta pelo pão de cada dia. Saibam, sem hipocrisia, num semáforo também está um futuro cientista não nascido. E que fique claro, eu também sou culpado por isso.
Mas a educação sempre vencerá! Filha do tempo presente, memória dos tempos de outrora, da história nunca se fez ausente. Venceremos! Ainda que junto a tudo isso, siga o MecDonalds brazil com o sucateamento do ensino público e a implementação do “new high school”, com a corrupção camuflada e o desvio de verbas santas, sob a benção do pastoreio das bíblias, fedendo com capas de ouro e com demônios com fuça de mito.
E por falar em pastor, só para registro, creio apenas no Rex, um pastor-alemão, meu amigo.
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* Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor
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