Olhar Filosófico

Aqui jaz um infeliz repleto de alegria

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Segundo o relatório global sobre a felicidade, promovido pelas Nações Unidas, em 2023, três países nórdicos despontam como os povos mais felizes do mundo. Pela ordem, Finlândia, Dinamarca e Islândia. Você leitor, guarde esta informação, ao final da leitura, voltaremos a ela. 

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Segundo Aristóteles, a felicidade é o bem para o qual tendemos como seres humanos. Conquistada a duras penas levadas a cabo pelo hábito das virtudes das virtudes habituais, por assim dizer, a felicidade é a meta do ignorante e do sábio que por caminhos opostos, é claro, traçam seus planos para alcançá-la. Enquanto o ignorante se perde pela estrada deixando-se levar pelos vícios de deficiências e excessos, o sábio segue com cautela praticando suas escolhas, em pensamento e ação, através daquilo que nosso pensador grego chamaria de meio-termo, qual seja, a exata medida (nem sempre tão exata assim) entre o exagero e a falta. Por exemplo, segundo Aristóteles, a coragem, uma virtude, seria o meio-termo entre a covardia (atitude do medroso) e a temeridade (atitude do imprudente). 

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Portanto, para nosso filósofo, uma vida feliz seria uma vida ética, das ações moderadas, virtuosas, realizada pela relação lógica e integrada entre conhecimento, hábito e disciplina.

Para além dessa ideia, mas ainda entre os gregos desse mesmo período que forjaria o pensamento ocidental, a tendência era conforme, uma concepção da felicidade como produto do intelecto e da ação. Feliz é o sábio que sabe o que deve ser sabido! E que raios é isso? Diga, diga, diga. O que devemos saber? O que podemos saber? O que nos coube saber? Diga, diga, diga. Decifra-me! Faço e penso ou penso e faço. Antes, sigo atento como Raul, empresto sua voz e também grito:“Faça, Fuce, Force/ Mas!/ Não fique na fossa!/ Faça, fuce, force/ Mas!/ Não chore na porta!/ Faça, fuce, force/ Vá!/ Derrube essa porta!/ Trace, fuce, force/ Vá!/ Que essa chave é torta!/ Feliz por saber/ Que só sei, que não sei/ E quem sabe não fala, não diz/ Vida, alguma coisa acontece/ Morte, alguma coisa/ Pode acontecer/ Que o mel é doce/ É coisa que eu/ Me nego afirmar/ Mas que parece doce/ Isso eu afirmo plenamente!” E repleto de alegria, me fiz um infeliz, jaz, traz, só de pensar cansei-me homem. Agora canto para a alegria!

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E segure um pouco seu Aristóteles, a felicidade é mais embaixo e pouco agora me importo. Aguenta aí caro grego, abaixo da alma existe um corpo, e no corpo eu me absolvo e absorvido de mel sinto-me doce, parece que sim. Ecce homo, sapiens demens. Afirmo, portanto: intelecto que cheira jasmim cria samba, que de bamba não tem meio-termo, é sofrer e gargalhar, ainda que infeliz, alegre e cantarolando Cartola “A sorrir eu pretendo levar a vida/ Pois chorando eu vi a mocidade/ Perdida.”

Tudo bem, tudo certo, se sentidos, prazeres e desejos começarem a ser vistos como variáveis que complicam a realização da moral e, consequentemente, da felicidade. A sopa para ser feliz há de entornar na alegria. Canto para alegria! 

Felicidade talvez seja só produto posto a self-service, entregue pelo ifood, e recebida com merci beaucoup! Por isso, com Lupicínio, almejo o místico e transbordo, a “Felicidade foi-se embora/ E a saudade no meu peito ainda mora/ E é por isso que eu gosto lá de fora/ Porque eu sei que a falsidade não vigora/ Felicidade foi-se embora/ E a saudade no meu peito ainda mora/ E é por isso que eu gosto lá de fora/ Porque eu sei que a falsidade não vigora/ A minha casa fica lá detrás do mundo/ Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar.” Lá de fora, lá de fora. Canto para alegria!

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Enfim, voltemos aos felicíssimos países nórdicos, talvez aqueles mais próximos da justa medida sonhada pelos gregos e acalentada por Aristóteles. Finlândia, Dinamarca e Islândia são o 10º, o 9º e o 1º, nessa ordem, os países com maior utilização per capita de antidepressivos. Pensemos, pensemos. Talvez a felicidade seja mesmo só um produto encapsulado e vendido em frascos! Ou talvez falte uma roda de samba entre os vikings, com certeza um Gonzaguinha!

E eu canto, eu canto, eu canto, pois aqui jaz um infeliz repleto de alegria! 

 

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