Olhar Filosófico
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Sérgio Sérvulo da Cunha se foi. Cada palavra me sai embargada. Cada verbo me perde em sua ação. Cada substantivo fica sem morada. Fato esse que espanta os olhos, cala o peito e dilacera a alma.
Sérgio é pessoa que não se morre. É vida e ideia encarnadas.
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Sérgio era um monumento. Um sábio, no sentido de entendimento em que só os Antigos fariam jus. Sócrates dos tempos novos. Um Francisco casado com Clara ou Yara.
Vida devotada à diaconia, o servir sereno, compassivo e justo radicalmente cristão.
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Embora nunca tenha sido seu aluno, eu intuía o Sérgio professor. Tentava adivinhar suas palavras. Errava. Ele sempre ia além. Outrora, Pontes de Miranda se admirara do filósofo a despontar polímata. Em nosso tempo, todos poderíamos atestar ao mestre alagoano a certeza coletiva dessa admiração.
Lia seus livros, devorava. Alguns comprados, mas outros tantos entregues diretamente por ele como presentes.
Alguns debates, poucos encontros e muita estima.
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Da última conversa que tivemos, na rua, encontro fortuito perto de livraria, conversamos sobre os métodos filosóficos de análise para um livro em que trabalhava. Falamos sobre um jovem filósofo alemão que despontava e, coincidentemente, atiçava nossas ideias. Hoje, quase me arrependo do meu falatório. Se soubesse, pediria só para poder ficar ouvindo-o. Nos despedimos.
Não desperdiçava os sons que viram letras e como flechas acertavam alvos que rasgavam de esperança o céu, deixando-o entreaberto e com vista para a antessala de Deus. Afinal, como registrou em seu livro, “Deus está além do Nada”.
Destemido, de espírito calmo e sorriso largo, professor Sérgio escrevera tomado de transcendência: “Se eu soubesse quanto eram, os desafios, maiores do que as minhas forças, não teria conseguido enfrentá-los.” Levou a Cruz certa e atravessou a ponte. Nem sentiu o peso nos pés, pois, sonhador, pisa firme é com o coração.
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Professor Sérgio merece cuidadosa biografia, reedição das obras esgotadas, quem sabe achados novos de poesia, filosofia, direito e tudo o mais que escrevia com raciocínio ímpar e referências a perder de vista. E ainda será pouco para quem o conheceu e, em viva-voz, viu ideia se encarnar em ação e ação se transformar em utopia. Sérgio exemplo. Sérgio gênio.
Sérgio faleceu no dia 11 de Dezembro, data que será só dele, pois feita para ele. Um dia depois de comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos e um dia antes do de Nossa Senhora de Guadalupe.
Entre a esperança na Terra e o acolhimento no céu. Entre o colo da mãe dos pobres e sofredores das injustiças do mundo e o exercício radical e diário da solidariedade humana.
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Dia 11 de Dezembro, dia mundial da celebração da vida e das ideias de Sérgio Sérvulo da Cunha, doutor dos pobres, santo leigo do suor das ruas e dos campos.
Não acredito ir longe demais ao pedir, Sérgio Sérvulo da Cunha, rogai por nós.
A humanidade perde um homem, mas ganha um legado que, para o seu próprio bem, não poderá ser esquecido. Temos de vivenciá-lo.
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Viva o Sérgio da luta!! Salve o Sérvulo da Cunha!
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