Olhar Filosófico
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Se a ciência nos explica o que é a vida no tempo presente, por outro lado, o sentimento nos define o seu significado no ainda agora e para além.
Não entro no mérito de uma discussão pautada em provas e contraprovas ou embebida de crença religiosa e gritarias de opinião. Falo, sim, de explicação e interpretação.
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Explicar é gratificante, mas interpretar é libertador!
Quando ousamos (será sempre uma ousadia) explicar algo, nos comprometemos a um desenvolvimento lógico, metódico e sistemático de toda a extensão de seu fenômeno. A explicação é ao mesmo tempo o ato de expor, esclarecer e justificar um dado fato, provar um certo raciocínio. Por exemplo, quando o professor José Renan de Medeiros, grande astrônomo e astrofísico brasileiro, nos lembra e explica didaticamente que somos poeira estelares, é fascinante!
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Diz ele, “é extraordinário perceber que, da ação catalisadora que transforma o hidrogênio em hélio, ao longo da vida de uma estrela, surgirão inúmeros elementos, entre os quais o carbono, o nitrogênio e o oxigênio, todos com um papel essencial na elaboração das moléculas da vida. Definitivamente, apesar de serem mundos absolutamente hostis, as estrelas são a fonte da vida. Definitivamente, o ser humano é poeira de estrelas!”
É, inegavelmente, fabuloso. E, ao contrário do que muitos pensam, esse fato cientificamente (e atualmente) provado, não diminui nosso status humanoide, mas, antes, eleva toda humanidade a uma esfera de dignidade cósmica, ou seja, não seria preciso nem mesmo um Deus para nos colocar numa situação tão especial, onde somos o que podemos ser com aquilo que de universal temos. Ainda que a ideia de um Deus(a) seja linda e aceitável à razão, uma vez que, se não vai materialmente ao encontro dos princípios e leis da logicidade que sustentamos, ao menos, não contraria seus princípios formais. Jogamos para o “pode ser”, uma divindade que de todo é. Pesos e medidas, frente à transcendência e esperança.
Interpretar é de outra ordem naquilo que diz respeito ao ato explicar. Interpretar é dar sentido e/ou determinar o significado de um fenômeno. Diferente da explicação, mas também de difícil acesso àqueles que negam o bom senso em nome do palpite, a interpretação exige tempo e simbologia apurada. Quase poesia.
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Quando interpretamos, criamos versões possíveis para o entendimento global de um determinado conjunto de dados. E, embora apele para uma espécie de conhecimento hermético, a ciência também tem grandes doses de interpretação, embora tenha medo de afirmar e assumir seu caráter fundamentalmente transitório.
Pois bem, interpretar é dar versões possíveis a um problema, a uma curiosidade, a uma angústia, a uma necessidade humana de resposta.
Quando no Ocidente surgiu a Filosofia (e dela todas as ciências), na Grécia, por volta do século VI a.C., com a afirmação de Tales de Mileto de que tudo é água, fazendo assim a superação das simbologias etéreas do mito, buscava-se uma forma de pensar que conciliasse razão humana (logos, num sentido simples) e natureza numa tentativa de explicação do real sem apelo ao imaginado. Ainda que carregasse uma carga enorme de interpretação, essa filosofia nascente, se distanciava das narrativas poéticas aos moldes de Homero, Hesíodo e companhia. Se por um lado ganhamos garantias lógicas para o esclarecimento dos fenômenos, por outro, em grande medida, deixamos de acompanhar a interpretação sobre Ulisses e suas vitórias e a virtude que isso nos traz, Aquiles e seus mirmidões e a busca do coletivo da lealdade, Zeus e a vitória do sonho humano sobre o tempo. Ainda que nos assustem, as ficções também possuem o valor de nos jogar para frente, ali mesmo, onde filosofia e ciência se explicam.
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Quando a ciência explica tudo, o tudo já não basta!
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