José Renato Nalini
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Chuvas fortes, inundações, vendavais, secas prolongadas, tudo é consequência do aquecimento global. E o aquecimento global é consequência do desmatamento e do uso intenso de gases geradores do efeito estufa. Gilvan Sampaio, meteorologista do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, explica o que ocorre: “Quando a temperatura aumenta, isso coloca mais energia na atmosfera. Se há fonte de umidade, isso gera mais evaporação e faz com que as nuvens cresçam mais. Nuvens de maior desenvolvimento vertical provocam chuvas mais intensas”.
A ciência comprova que “o sistema climático hoje tem muito mais energia para dissipar do que tinha há cinquenta anos. Grandes secas e enchentes são formas de dissipação dessa energia”, na visão de Paulo Artaxo, físico da USP, que participou na elaboração do relatório científico do IPCC.
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É óbvio que as áreas de risco se tornarão cada vez mais perigosas. Lugares que nunca inundaram poderão sofrer enchentes. Mas embora no Brasil se repita, costumeiramente, que “prevenir é melhor do que remediar”, na prática a catástrofe sempre apanha as vítimas despreparadas. Os governos confiam na solidariedade da Igreja, da sociedade, das ONGs e das pessoas físicas sensíveis, que procuram atenuar os males dos desabrigados.
O Inpe elaborou um estudo chamado “Megacidades, Vulnerabilidades e Mudanças Climáticas”. Apurou-se que chuvas acima de cinquenta milímetros por dia eram inexistentes antes da década de cinquenta do século passado. Hoje acontecem de duas a cinco vezes por ano na cidade de São Paulo. Isso porque a urbanização nas periferias vai eliminando a cobertura vegetal e continua a sanha nefasta da impermeabilização do solo paulistano.
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Uma empresa britânica de energia Uswitch, com base em banco de dados internacional de desastres naturais, apurou que no Brasil, 116.155.528 pessoas foram afetadas por ocorrências graves nos últimos anos. Foram 13.121 mortes em 251 desastres naturais. A maior parte é de enchentes – 154 – e em seguida deslizamentos de terra – 25.
O mundo hoje tem ciência, mas não tem consciência do que se deve fazer para evitar as consequências danosas – e até letais – desses eventos. Enquanto não se cuidar adequadamente da natureza, não se levar a sério a política estatal de redução das desigualdades sociais, pois os pobres são os que mais sofrem, não haverá condição de lamentar mortes, desabrigos e perdas materiais. Uma das receitas existe e é factível: plantar árvores. Mas o que se vê é a derrubada delas, não o plantio. Um dia a conta chega!
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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