José Renato Nalini
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Personalidade instigante, obscurecida no cotejo com seus familiares mais célebres, a de Martim Francisco de Andrada, o terceiro. Era um homem erudito, culto e elegante.
Dissertava com inexcedível brilho sobre quase todos os assuntos. Evitava aqueles que envolvessem sensualidade e alcova.
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Um de seus amigos, o Barão de Rio Branco, notou a preocupação de Martim em se distanciar de temas que não condissessem com a elegância de seu espírito. Notou e contra ela conspirou. O Barão do Rio Branco também fazia suas travessuras.
Ofereceu um almoço aos seus mais íntimos e cultos amigos, fornecendo-lhes previamente e à sorrelfa, sem que Martim o suspeitasse, material variado que deveria ser abordado durante o ágape. A cada qual solicitou que levantasse um tema que Martim consideraria inadequado ou até escabroso. Sim, cabe este adjetivo, porque, além de ser algo insuscetível de ser tratado diante de senhoras, até para os homens era constrangedor. Enrubesceria um frade de pedra, conforme então se costumava dizer.
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Ia bem o almoço, quando surge a primeira provocação. E logo em seguida a segunda, a terceira. Martim ouvia e nada dizia. Mas o seu temperamento não era desses que permitem ouvir e calar-se.
Depois, à sua fina perspicácia não passara despercebido o ensaiado desejo de conduzi-lo a participar dessa conversa que encanta muita gente, principalmente aquelas pessoas que não têm estofo cultural suficiente para sustentar outra de mais elevado nível.Chega um momento em que todo o ensaio foi levado a cabo. Já não havia mais o que dizer, para chocar Martim Francisco.
Começa ele então a dissertar. Aclarou o sensualismo lembrado pelos escritores latinos. Caminhou pela História e adentrou ao século XVIII, o mais galante de todos os séculos. Disse versos de Scarron e Bocaccio. Ao falar sobre a nudez, recordou La Fontaine. Alcançou Gregório de Mattos com seus improvisos. Enumerou anedotas internacionais. Fez rir a todos os comensais. Só ele não riu.
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Rio Branco, maravilhado, externou sua desconfiança: “Um de vocês me traiu. Martim, com certeza, soube da conspiração e preparou-se. Sem essa preparação, não nos poderia ter encantado quanto nos encantou”.
O trote saiu pela culatra. Pena que o conteúdo da fala tenha se perdido sem registro para nosso deleite.
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