José Renato Nalini
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A Semana Moderna de 1922, cujo centenário está prestes a ser celebrado, praticamente nasceu dentro da Academia Paulista de Letras. Esta Instituição criada em 1909 pelo médico Joaquim José de Carvalho, um carioca, nunca deixou de funcionar. Embora criticada por alguns, sempre foi cortejada por outros tantos.
Mestre Miguel Reale, com quem tive o privilégio de conviver já na condição de confrade, e que me honrou duas vezes com seu voto, declamava em francês um poema que narra a odisseia das Academias. Dizia mais ou menos: “Somos quarenta e nos desprezam; somos trinta e nove e se ajoelham diante de nós!”.
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Como em francês joelho rima com “nous”, de nós, traduzia bem o que se passa numa Casa de estímulo à literatura, às letras e à cultura em geral e que só comporta quarenta cadeiras.
Mas a Semana de 22 começou com Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Este não integrou a APL. Mas os dois primeiros sim. Também Plínio Salgado, Guilherme de Almeida, ambos bem atuantes naquela célebre semana, além de Sergio Milliet, que foi um denodado integrante da diretoria da Casa do Largo do Arouche. Washington Luís era o Presidente do Estado e, também acadêmico, cedeu o Teatro Municipal para as três noites espetaculares, embora os organizadores tivessem pago pelo aluguel do próprio estatal, mediante uma subscrição pública, encabeçada por Freitas Valle e D. Olívia Guedes Peneado.
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A repercussão da Semana de 22 foi alvo de cobiça da política, sempre ela, a pretender extrair proveito de iniciativas para as quais não colaborou, mas que podem render simpatia e, principalmente, votos. Getúlio Vargas chegou a afirmar que a Semana Moderna de 22 abriu caminho para a “vitoriosa” Revolução de 30.
Menotti, em suas memórias, conta que a primeira noite não chamou muita atenção. Na segunda, a seu cargo, teria providenciado estrondosas vaias. Estas garantiram espaço na mídia à época e os ecos de 22 reverberam até hoje.
Essas as duas celebrações a que os paulistas devem prestar atenção no próximo ano: o Centenário de 22 e o bicentenário do Grito do Ipiranga. O “resto”, que vai acontecer em 22, é realmente “o resto”. Seja o que Deus quiser. Quem é mesmo que dizia que Deus era brasileiro? Parece que Ele não faz muita questão de usar verde e amarelo nesta era.
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