José Renato Nalini
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A famosa heroína baiana é um dos ícones femininos na História do Brasil, e sobre ela não há muito material confiável. Há mais lendas do que veracidade em sua história.
Mas é preciso resgatar o que se encontra de fidedigno em sua atuação. E preciosa parece a narrativa contida no “Diário de uma viagem ao Brasil”, da inglesa Maria Graham, que se encontrou pessoalmente com Maria Quitéria no dia 29 de agosto de 1823.
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Ela relata: “Recebi hoje uma visita de D. Maria de Jesus, jovem que se distinguiu ultimamente na guerra do Recôncavo. Sua vestimenta é a de um soldado de um dos batalhões do Imperador, com a adição de um saiote escocês, que ela me disse ter adotado da pintura de um escocês, como um uniforme militar mais feminino. Seu pai é chamado Gonçalo Alves de Almeida e possui uma fazenda no rio do Peixe, na paróquia de São José de Itapororocas, cerca de quarenta léguas para o interior de Cachoeira. Sua mãe era portuguesa; contudo, as feições da jovem, especialmente os olhos e a testa, apresentam os mais acentuados traços dos índios. Seu pai tem outra filha da mesma mulher, depois de cuja morte ele se casou de novo; a nova mulher e as crianças faziam com que a casa não fosse muito confortável para D. Maria de Jesus. A fazenda do Rio do Peixe é principalmente de criação, mas o proprietário raramente sabe ou conta as suas cabeças. O Sr. Gonçalves, além do gado, planta algum algodão, mas como no sertão passa às vezes um ano sem chover, a produção é incerta.
D.Maria contou-me diversas particularidades relativas a suas próprias aventuras. No começo da guerra do Recôncavo, percorreram o país em todas as direções emissários do governo para inscrever voluntários; um desses chegou à casa de seu pai; ele começou a falar sobre o objetivo da visita. Descreveu a grandeza e as riquezas do Brasil e a felicidade que poderia alcançar com a Independência. A moça afirmou: “Senti o coração arder em meu peito”. Seu pai não partilhava em nada seu entusiasmo. Ela escapuliu de casa para a casa de sua irmã, apanhou as roupas do cunhado e vestiu-se à masculina. Está na Infantaria, trouxe despachos para D. Pedro I, que lhe deu o posto de alferes e a Ordem do Cruzeiro.
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É iletrada, mas inteligente. Sua compreensão é rápida e sua percepção aguda. Penso que, com educação, ela poderia ser uma pessoa notável. Não é particularmente masculina na aparência; seus modos são delicados e alegres”. Um relato isento de quem a conheceu. Hoje uma legenda no Panteão dos Heróis brasileiros.
* José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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