José Renato Nalini

Primeiro foram os bichos

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O relatório Living Planet Report ganhou sua décima-quarta edição e resulta de uma parceria entre a WWF e a Sociedade Zoológica de Londres. Apurou que entre 1970 e 2018, o planeta perdeu quase setenta por cento de sua fauna. Em 2014, a perda era de 50%.

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O que significa isso?

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A perda de biodiversidade e as mudanças climáticas atingem primeiro os irracionais. Em seguida, chegarão aos racionais. É a humanidade que corre risco, não o planeta.

A maior ameaça para a natureza é a alteração na utilização do solo. Durante milênios, ele foi coberto por vegetação que permitiu o florescimento de uma exuberante biodiversidade e de não menos gloriosa fauna. À medida em que a mata é destruída, monocultura ocupa seu espaço e, quando a terra exaurida vira pasto, a possibilidade de qualquer vida natural é eliminada.

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A destruição de habitats naturais ocorre tanto em terra, como em água doce e no mar. E a campeã nessa queda é a América Latina, que registrou 94% de perda na fauna terrestre e 83% de desaparecimento de espécies de água doce.

No Brasil, as maiores baixas estão na Amazônia: o boto é vítima da contaminação por mercúrio e captura em redes de pesca, ataques em represália pela danificação de equipamentos de pesca e a sua busca para servir de isca na pesca da piracatinga. Existe uma reserva de desenvolvimento sustentável chamada Mamirauá, no Amazonas. Ali, a população de botos cor-de-rosa perdeu 65%. Mas também estão na lista de extinção as onças, o gato-palheiro, os corais, o lagarto papa-vento da Bahia e o tatu bola.

O índice Planeta Vivo deveria servir como bússola de atuação para a consciência ambiental moribunda neste Brasil da destruição ecológica. Mas, insensíveis para os eventos climáticos extremos, os que têm autoridade para estancar o extermínio continuam a alardear o excesso de proteção ambiental como entrave ao “desenvolvimento”.

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As primeiras vítimas humanas serão, como sempre, os pobres. Já se perdeu 20% da floresta Amazônica e outros 20% estão degradados e rumo ao desaparecimento. Uma lástima que não se aproveite desse patrimônio natural e gratuito, para fomentar o verdadeiro progresso. Como influenciar a mentalidade tacanha dos dendroclastas? Esse o desafio brasileiro.

* José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

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