José Renato Nalini

Onde foi parar a virtude?

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Educação, a gigantesca falha de um Brasil que pretende ser uma nação civilizada, está no discurso de todos. Principalmente dos que lucram com seus projetos, fazem consultorias pagas pelo Erário – portanto pelo povo – mas não enfrentam a sala de aula.

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Um ensino fundamental que se limita a fazer decorar informações desatualizadas e inservíveis para a vida, arremessa para a Universidade jovens que não sabem ler. Pior ainda, que não gostam de ler. A leitura se reduz a sumários, cada vez mais sumaríssimos. A linguagem passou a ser uma espécie de onomatopeia. São os “kkk”, os “rs” ou os e-moji que suprimem a necessidade de escrever e reduzem uma legião à linguagem gestual quase simiesca.

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Tudo isso porque se olvida que educar é propiciar o desenvolvimento das potencialidades que todo humano possui, numa vocação de perfectibilidade, até se atingir a plenitude possível. Mais ainda, é capacitar para o exercício da cidadania e qualificar para o trabalho.

São três propósitos que não podem dispensar o cultivo da virtude. Só faz sentido educar para o bem. Para o caminho reto. Para a disseminação de bons sentimentos. Para a comiseração quanto aos necessitados, que são milhões.

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Esquecemo-nos da tradição virtuosa, que produziu exemplares raros de historiadores como João de Barros, que viveu e escreveu na primeira metade do século 16. Suas poesias são consideradas obras clássicas e há poucas crianças em Portugal que não saibam declamar estes deliciosos versos, consagrados à filha em um de seus aniversários: “Põe na virtude/Filha querida/De tua vida/Todo o primor. Não dês à sorte/Que tanto ilude/Em tua vida/Algum valor. Tudo perece/Murcha a beleza/Foge a riqueza/Esfria o amor. Mas a virtude/Zomba da sorte/E até da morte/Disfarça o horror. Cultiva atenta/Filha mimosa/Sempre viçosa/Tão linda flor”.

Frases singelas, mas que lembram o essencial: de nada vale a erudição, se com ela não se produzir um ser humano sensível, capaz de partilhar seus dons, de considerar cada ser vivo um elo imprescindível à preservação da vida. Aventura efêmera e finita, cujo maior proveito é o incessante crescimento interior.

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