José Renato Nalini
Continua depois da publicidade
Quem quiser se situar em tempos confusos ganhará um pouco de claridade, ou se perderá de vez, ao ler “O sentido de um fim”, de Frank Kermode (1919-2010), um dos mais prestigiados críticos literários britânicos. Para quem acha que o apocalipse chegou, o autor tenta mostrar que a sensação de que o fim dos tempos chegou é uma forma que os indivíduos têm de aceitar aquilo que não entendem.
Não é de hoje que as pessoas pensam que os derradeiros dias estão próximos. Enxergam sinais nos horrores perpetrados por seres humanos, na dissolução dos costumes, na barbárie, em inúmeras formas que o ser racional tem de mostrar a sua mais absoluta irracionalidade.
Continua depois da publicidade
Quantas pessoas não aceitaram a prática do suicídio coletivo, no famoso episódio do pastor Jim Jones? Quantos são aqueles que, diante de um resultado inverso ao que esperavam, não enxergam a proximidade do caos, a entrega do país ao comunismo, a insegurança da propriedade, a descrença nas instituições e a vontade de acabar com a estrutura do sistema Justiça?
Tudo isso é reforçado pelo fenômeno chamado “viés da confirmação”. É o termo que o psicólogo Peter Wason criou na década de 1960, para o mecanismo que induz a mente a aceitar as informações que sustentam as próprias crenças e que não aceita qualquer desvio ou argumentação em contrário.
Continua depois da publicidade
Estamos a vivenciar essa fase, embora nem todos nos demos conta dela. A polarização entre posições antagônicas, o subjetivismo a nublar os fatos, sofre a interferência da realidade: um apocalipse ambiental está no horizonte. O colapso do planeta, diante da maldade humana, é fato comprovado pela ciência.
O pior é que as fantasias tendem a se converter em realidade na mente acometida de fanatismo. Com a entrega cega a condutores de seitas que proliferam e cujo apreço pelo dinheiro é infinitamente maior do que o ideal da salvação dos irmãos. Como diz Mário Sérgio Conti em “à espera do Aocalipse” (FSP, 21.1.2023), “é um mau agouro. Significa que a Seita dos Últimos Dias decifrou os ruídos e silêncios do perdedor, viu neles uma convocação ao Apocalipse. Idólatras e mártires não são demovidos pela realidade. Muito menos pela razão. Talvez, nem pela prisão”.
* José Renato Nalini é Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.
Continua depois da publicidade