José Renato Nalini
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Foto: Sora Shimazaki/Pexels
O comportamento dos interesseiros têm sido idêntico, em todas as épocas. Quem acompanha a história do Brasil verifica a desfaçatez com que se conduzem aqueles que circulam em torno do poder. Assim foi na Colônia, durante as capitanias hereditárias, depois nos Governos Gerais. Quando a Família Real chegou em 1808, muita gente passou a vegetar em torno à Corte, pretendendo usufruir das benesses da monarquia.
Desde 1822 até 1889, os brasileiros bajularam os Imperadores. Ficaram satisfeitos com os títulos de nobreza profusamente distribuídos. Logo em seguida ao golpe de 15 de novembro de 1889, quase todos viraram a casaca e hastearam a bandeira republicana.
As pessoas éticas ficavam acabrunhadas e sentiam vergonha alheia. É a vergonha de quem não acredita que um ser humano é capaz de tanta baixeza. Pois, como dizia Simão de Mantua, no livro “Figurões vistos de dentro”, “alguns empregados públicos vacilavam, não sabendo bem se deveriam aderir já ou esperar; guardavam silêncio, saudando pressurosamente os republicanos históricos; tomavam informações, procurando conhecer quais os íntimos e parentes destes. Foi um momento de angústia para os abnegados servidores da causa pública”.
Enquanto isso, as influências republicanas não tiveram mais sossego. “Era acabar um batizado, já vinha um pedido para testemunha de casamento. Até houve quem, não tendo filho, fora alugar um, para oferecer como afilhado”. Essa vergonha continua até os dias de hoje.
Assim que definidas as eleições, a turma do “se há governo, sou a favor”, inclinaram-se, despidos de qualquer constrangimento, a cortejar o vencedor. Iniciam-se as homenagens, uma tática bem exercida no Brasil da subserviência. Há quem se disponha a “comprar convite” para o aniversário de um vitorioso, pois não quer perder qualquer migalha da mesa do banquete.
Isso ocorre nos três poderes, inclusive no Judiciário. Antes de alguém ser guindado à Suprema Corte, levantam-se os críticos, aludindo a uma série de “falta de condições”. Assim que nomeado, a romaria dos que pretendem ser íntimos do novo guardador da Constituição é impressionante. Certa vez comentei com um candidato, em busca de apoio, pois a corrida é ingente e semeada de óbices, que a sua única preocupação, depois de nomeado, seria enfrentar as maioneses dos banquetes em sua homenagem, que se multiplicariam Brasil afora.
A Escola dos áulicos, dos bajuladores, dos aduladores, é uma indústria muito próspera neste nosso Brasil.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.
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