José Renato Nalini

O cerrado está ferrado

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A Amazônia é uma preocupação mundial. Todos sabem que ela é fundamental para a saúde climática do planeta. A Mata Atlântica, por abrigar a maior parte da população brasileira, tem até uma lei especial, além de ter sido contemplada na Constituição Ecológica (era assim chamada quando promulgada, por causa do pioneirismo de seu artigo 225). Já o cerrado, pobre coitado, não parece merecer tanta atenção. Por isso mesmo, a destruição prossegue à toda. Em 2022, o desmatamento cresceu praticamente trinta por cento em relação a 2021, de acordo com o sistema Prodes do Inpe-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

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Perdeu quase onze mil quilômetros quadrados de vegetação entre agosto de 2021 e julho de 2022. Foi o terceiro ano seguido de aumento do desmate. No último quatriênio, a área perdida foi superior a trinta e três mil quilômetros quadrados, o que equivale a seis vezes a área de Brasília.

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A responsabilidade por esse extermínio é do festejado Mapotiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Sozinhos, causaram setenta e um por cento de eliminação de cobertura vegetal. O Maranhão liderou e em seguida Bahia, Tocantins e Piauí.

Poucos dão valor a essa área de savana tropical, que abriga mais de cinco por cento da biodiversidade mundial e vinte e cinco milhões de pessoas, cem povos indígenas e comunidades tradicionais. É o bioma de menor proteção no ambiente brasileiro. Somente doze por cento dele está em Unidades de Conservação e em Terras Indígenas. O famigerado diploma de 2012, que alguns chamam lei Florestal – que não se utiliza uma única vez dessa expressão: “Código Florestal” – permite que até oitenta por cento das áreas podem ser utilizadas para a agricultura e pecuária. A esperança é que o mercado internacional interrompa a aquisição de produtos provenientes de áreas desmatadas. A União Europeia já acordou em vedar a compra de soja, carne bovina, madeira, cacau, óleo de palma e café, se não houver prova de uma cadeia ecológica na sua produção.

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Espera-se que a economia conscientize os agricultores e pecuaristas brasileiros de que preservar é mais lucrativo do que explorar a terra para soja e depois usá-la como pasto, a caminho da desertificação. O bolso é o melhor argumento para quem só raciocina a partir de cifrão.

* José Renato Nalini é Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.    

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