José Renato Nalini

Nem santuário, nem bordel

Continua depois da publicidade

Recente afirmação de um empresário merece reflexão. Ele disse que a Amazônia não deve ser vista como um santuário que não pode ser explorado. Entendo e compreendo. Embora me fascine a ideia de que regiões de exuberante biodiversidade, principalmente as que não soçobraram diante da insaciável cupidez do bicho-homem, devessem merecer respeito análogo ao que se devota aos templos.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

A Amazônia é um santuário que legitima a crença no design inteligente. Resultaria de mero “big-bang” a sua multifacetada realidade, viva e surpreendente, verdadeira vitrine das maravilhas naturais, gratuitamente ofertadas ao ser humano?

Continua depois da publicidade

Não se tem respeitado a Amazônia. A maior riqueza brasileira e planetária, é destruída sem clemência, antes mesmo de se descobrir todas as suas riquezas e potencialidades.

Organismos internacionais, ancorados na mais robusta ciência, já disseram que a floresta em pé vale muitas vezes mais o que se apuraria com a sua derrubada. Talvez o apelo financeiro sensibilize as consciências empedernidas que não querem enxergar o crime de lesa-futuro que é o extermínio daquela imensidão, a cada dia menor e mais ameaçada.

Continua depois da publicidade

Uma exploração sustentável da Amazônia implicaria em pesquisa e estímulo propiciados pelo Estado, mas também pela iniciativa privada. Esta é que saberá conferir valor agregado a tantas espécies animais e vegetais que ali se desenvolvem e tornar rentáveis ocupações hoje pouco prestigiadas. Universidade, Terceiro Setor, Mídia e todas as manifestações do patriotismo precisam estar abertas a esse vácuo de imersão amazônica. Sem conhecê-la, impossível defendê-la.

A tragédia é converter a Amazônia em verdadeiro bordel, palco de escancarada corrupção em todos os graus, com exploração criminosa de suas riquezas, extermínio de etnias que deveriam ser reconhecidas como as legítimas titulares daquelas terras que ocupam há milênios.

Essa terra sem Estado e sem lei, sem polícia e sem Justiça, foi entregue à sanha assassina de organizações criminosas, cada vez mais organizadas e mais sofisticadas. Elas já dominam aquela imensa gleba, para a qual a ideia de “Santuário” está cada vez mais remota, enquanto a boiada insana avança e a converte em território livre para todas as carnificinas e transgressões.

Continua depois da publicidade

* José Renato Nalini é Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.  

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software