José Renato Nalini

Não dá mais para ignorar

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Pode parecer aborrecido e repetitivo. Mas a grande questão neste nosso turbulento presente é o impacto que as mudanças climáticas imporão a todos. Ninguém está imune aos fenômenos extremos, que se intensificarão e se multiplicarão. Precisa lembrar que 2023 foi o ano mais quente em cento e vinte e cinco mil anos?

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            Enquanto o lobby dos combustíveis fósseis nada de braçada, as vítimas da profunda e dramática mutação aguardam solução dos governos. Estes se preocupam mais com eleições, com a matriz da pestilência chamada reeleição e com atender aos seus objetivos mais pessoais e desvinculados do interesse coletivo.

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            Não dá para confiar apenas no Estado. Este se tornou onipotente e inalcançável. Não se diga que se vivencia Democracia Plena somente porque há eleições a cada dois anos. É urgente que a sociedade – ela, na verdade, é um ente coletivo: somos todos nós – adote as medidas corretas e exija mais compostura do governo.

            O perigo que ronda o futuro da humanidade advém do uso excessivo de combustíveis fósseis. Por isso é preciso pensar e agir em termos de transição energética. Encarar a tríade ESG – Ambiental, social e governança – com seriedade. Levar também a sério a eliminação do uso do petróleo e do carvão, ainda que não de imediato. Mas não fugir à realidade: o petróleo mata. O empresariado tem um guia de sobrevivência à ação deletéria do governo. Ele tem tomado as medidas necessárias à mitigação dos efeitos da emissão dos gases causadores do efeito-estufa. Todos temos condições de reduzir as emissões, de procurar combustíveis mais eficientes, de se interessar por energias renováveis, de projetar a aquisição de um veículo movido a eletricidade. Enquanto isso, adotar a virtude da prudência. Não desperdiçar água, plantar árvores, recuperar cursos d’água sacrificados para servir à sua majestade o automóvel, o veículo mais poluidor e mais egoísta e que ainda é o sonho de quase todos os brasileiros.

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            Cada ser humano preocupado com o amanhã precisa ser um arauto da boa nova: nem tudo é Estado, nem tudo é governo. O único titular da soberania é o povo. Isso é o que diz a Constituição. Entretanto, o povo não tem sido a principal e única preocupação da política profissional. Esta ganhou conotações que a deturpam como arte da coordenação da vida coletiva. A cidadania tem de retomar as rédeas. Impor sua vontade. E essa vontade, no presente momento, está acionada pela grave crise ambiental, ainda não tratada como se deve.

            Não se subestime aquilo que pessoas anônimas, aparentemente isoladas, pode fazer para alertar as autoridades e para formar uma consciência coletiva, esta sim, capaz de mudar rumos da política, para que atenda ao que interessa a todos, não ao que interessa a pouquíssimos.

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