José Renato Nalini
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Os que vendem desinformações a respeito do aquecimento global são esses nefastos mercadores de dúvida, expressão que serviu de título para o livro de Naomi Oreskes e Erik M. Conway, de 2010. O tema serviu para um documentário capaz de seduzir os que não se conformam com a epidemia de falácias que procura obscurecer a verdadeira ciência.
A partir dessa constatação, surgiu um campo novo de estudos, a agnotologia, a investigação de sistemas de produção e manutenção estruturais da ignorância.
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A cupidez e a ganância se encarregam de pagar pseudocientistas que se valem de evidências científicas, mas distorcidas ao sabor do capital sem freios inibitórios. Antagônico a qualquer resquício de ética ambiental. Para o jornalista de ciência e ambiente Marcelo Leite, essas inverdades ganham foro universal quando campeiam desenvoltas pelas redes sociais, quais “zumbis digitais”. Cada vez mais difícil o confronto com esses propagadores, que têm boa soma disponível para que o mundo acredite não existir aquecimento global, nem mudança climática. Tudo seria coisa de ambientalistas fanáticos, esses que se amarram em árvores e preferem o mico-leão a tirar da miséria – mediante mais exploração petrolífera e devastação de todos os biomas – os que passam fome no planeta.
Naomi Oreskes veio pela primeira vez à Amazônia e viu ainda espaços que a emocionaram. A experiência foi mais emocionalmente autêntica. Não são os fatos estarrecedores, os números inimagináveis da chacina e dos incêndios provocados. “Há a cabeça e há o coração. E a parte do coração, de como é surpreendente essa paisagem, como são resilientes as pessoas que conhecemos, e tão generosas, calorosas e receptivas. Cientistas falam o tempo todo sobre biodiversidade, mas é uma palavra muito neutra. O que vimos foi a variedade surpreendente da natureza, a beleza surpreendente da algo como uma lagarta”.
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Seria bom que os céticos tivessem contato com os biomas ameaçados e vissem de perto o que será o extermínio da natureza. Tudo piorou com as redes sociais. Multiplicaram-se os canais diferentes de desinformação. A negação zumbi prolifera em argumentos falsos, estratégias retóricas enganosas que surgem sob novas formas, novos lugares, novas vozes.
A esperança é comover infância e juventude, muito mais abertas aos avisos da verdadeira ciência e muito mais protetores da natureza do que os velhos de coração carcomido, ansiosos por obter mais dinheiro, sem preocupação alguma para com o futuro do planeta e da humanidade.
* José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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