José Renato Nalini

Interesses explícitos na transição energética

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Foto: Unsplash/Patrick Hendry

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Sei que é inviável abandonar de vez o petróleo. Esse combustível fóssil é poluente, envenena o mundo, mas foi importante para garantir bem-estar para a humanidade. E continua a sê-lo.

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Só que é preciso reconhecer: há limites para a emissão de gases venenosos. E isso é essencial se leve a sério.

A todo-poderosa OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo nunca deu a mínima ao Brasil. Na década de setenta impôs os seus preços e não se preocupou com a economia mundial. Só quando o Brasil já exporta 45% do que produz e pode superar os 60% nos próximos anos, é que mereceu a visita de Haitham A Ghais, o kuwaitiano que é o primeiro Secretário-Geral da OPEP a visitar o Brasil.

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Foi muito bem recebido por Lula e por Alckmin, ambos adeptos da exploração petrolífera na Foz do Amazonas. O visitante foi arisco ao dizer se o Brasil seria bem vindo à OPEP. Embora tenha declarado “nossa porta está aberta para todo mundo, inclusive para o Brasil”, concluiu que “entrar na OPEP não é uma questão para o governo brasileiro decidir”. Ou seja: lá terão ingresso aqueles que os originais países exportadores de petróleo quiserem.

Repudia o título de Cartel, dizendo que a OPEP apenas defende a segurança da energia global, pois o petróleo continua a responder por 30% da matriz energética mundial. E o uso do petróleo vai crescer até 2045.

O kuwaitiano não acredita no recuo à utilização do petróleo. Para ele, a União Europeia e outros países que tinham metas de transição para 2030 já postergaram para 2035. E ele acredita que nem em 2045 elas serão possíveis. Isso porque o mundo vai necessitar de 23% a mais de energia até lá.

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Para a OPEP, é bom que o mundo continue a investir em petróleo e gás. Mas a verdade é que a Terra tem seu limite de tolerância em relação à emissão de gases venenosos. Valerá a pena insistir no petróleo e abreviar o tempo de aventura humana sobre este maltratado, sofrido e vilipendiado planeta?

O Brasil tem tudo para uma transição mais tranquila do que os países que acabaram com suas florestas e hoje dependem da descarbonização para sobreviver. Haverá juízo suficiente para se aproveitar dessa oportunidade tão singular?

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.   

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