José Renato Nalini

Independência d’alma

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7 de setembro é data que provoca reminiscências nos que já percorreram mais da metade do caminho. As escolas preparavam seus alunos para o grande desfile, que era uma demonstração da qualidade do ensino. Disputava-se vaga para pertencer à fanfarra, cujos ensaios eram diários, iniciados logo na retomada das aulas, a primeiro de agosto.

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Carregar a bandeira brasileira, tendo ao lado os portadores da bandeira paulista, do município e do colégio, era outro prêmio cobiçado. Havia um justificado orgulho na participação desse evento que era único. Vibração e patriotismo espontâneos, autênticos, genuínos.

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Não vejo, nas gerações que nos sucederam, entusiasmo idêntico. A marcha cadenciada remete a militarismo, que não recebe adesão de todos. Perdeu-se a noção de disciplina, de coordenação, de um conjunto organizado e convicto de que defender as cores de sua escola é um galardão.

Será reflexo da própria transformação que o conceito de independência sofreu no decorrer dos anos?

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Independência é ideia convergente com a de soberania. Aprende-se nas aulas de Teoria Geral do Estado que soberania é um poder absoluto. Incontrastável, indelegável, inalienável, com todos os qualificativos que a tornem algo verdadeiramente onipotente. Verdade que ainda existe, formalmente, a ideia de soberania, cujo titular é o próprio cidadão. O conjunto de cidadãos forma o povo e é deste que emana todo o poder.

O mundo mudou bastante. As nações têm de se curvar a circunstâncias que limitam a sua soberania. Esta se relativizou, não tanto em virtude de haver condicionamentos a esse poder superlativo. Mas em virtude da própria conformação do verdadeiro poder que, na cultura do mercado, é exercida pelo dinheiro.

Empresas transnacionais, ou até apátridas, têm capital superior ao de muitas nações. Estas precisam conviver numa equação de equilíbrio oscilante. Nenhuma delas, nem as maiores, fruem daquela independência teórica: poder absoluto e incontrastável, sem similar, sem competidores.

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Talvez se deva incutir na consciência das crianças e dos jovens que a verdadeira independência é aquela que se constrói dentro de si. Independência d’alma, a plena liberdade de pensar, de escolher padrões, de definir o seu rumo nesta peregrinação de tão efêmera duração.

Independência é precisar de pouco para ser feliz. E a Pátria precisa de brasileiros mais felizes e confiantes em seu futuro.

 

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* José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.   

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