José Renato Nalini

Fiadores da paz

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Tempos difíceis os que enfrentamos agora. Ao lado de conquistas incríveis na ciência e logo assimiladas por sua serva, a tecnologia, vivemos o ressurgimento da guerra íntima. A luta particular de cada indivíduo convicto de que a sua verdade é a única e que alguém que ouse divergir deve ser tratado como inimigo mortal.

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O fanatismo ideológico levou a fracionamento de laços afetivos dentro da família, no trabalho, na escola, na vida social. Irmãos deixaram de conversar, amigos de longa data se separaram. Discussões acirradas, completa perda do sentido próprio ao diálogo, ofensas e comprometimento da civilidade.

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Um novo ano começa sob invocação da paz. O primeiro dia de cada ano, de todos os anos, é o dia universal dedicado à paz. Também reservado à celebração da fraternidade, que para os brasileiros adquiriu outra dimensão, assim que erigida à condição de categoria jurídica.

Na República em que existem mais Faculdades de direito do que a soma de todas as outras restantes, existentes em todo o planeta, a busca da pacificação deve ser o compromisso dessa imensa comunidade jurídica. O sistema justiça brasileiro é um dos mais complexos e sofisticados do mundo. A partir da segunda maior Constituição da Terra, analítica e abrangente, prenhe de termos vagos, imprecisos e ambíguos, foi fácil transformar o Brasil na grande pátria hermenêutica. Tudo depende de interpretação.

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Que tal procurar um equilíbrio na leitura da normatividade e encontrar nela o estímulo a que as pessoas se componham, se solidarizem, se unam e caminhem juntas em busca de um destino mais nobre do que aquele que se avizinha? O maior perigo que ronda a humanidade não é a guerra convencional – da qual pensávamos estar livres – nem a pandemia, nem a geopolítica. É o aquecimento global, causado pelo bicho-homem.

Essa a batalha a ser travada: a recomposição da cobertura vegetal, remédio certo e eficaz, o mais simples e o menos dispendioso, para devolver saúde ao sofrido planeta. Uma comunhão humana consegue realizar esse milagre. Assumamos, todos juntos, a missão de fiadores da paz. Sem ela, não curaremos as feridas da Terra, nem a enfermidade que assola boa parte das consciências empedernidas.

* José Renato Nalini é desembargador aposentado. Foi Corregedor Geral da Justiça – 2012-2013 e Presidente do Tribunal de Justiça de SP – 2014-2015.  

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