José Renato Nalini

Ética mascarada

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Não canso de repetir que ética, a ciência do comportamento moral do homem em sociedade é a matéria-prima de que o Brasil mais se ressente. Quando os de cima não dão o exemplo, os de baixo se sentem à vontade para mergulhar no lamaçal.
 
A busca de um comportamento ético é atemporal. Em todas as eras, procurou-se concretizar o conceito ideal entre o belo e o bom. Mas é lastimável para quem quisesse acreditar na evolução natural da humanidade, na vocação de perfectibilidade da única espécie racional, verificar a podridão que envolve desde os altos escalões, até o rodapé da vida nacional.
 
Num ensaio chamado “Acerca da Ética”, Arthur Schopenhauer concebe o mundo civilizado como um grupo de pessoas mascaradas. Disfarçados nas mais diversas profissões, “não são o que representam: são simples máscaras, sob as quais, via de regra, se situam especuladores financeiros”. Essa expressão, que poderia ser traduzida por “moneymakers”, identificaria a raça dos que preferem o dinheiro acima de tudo. Eles continuam a existir e, como observa Dirce Amarante, “no século 21, a diferença é que ninguém precisa mais usar máscaras para cobrir sua verdadeira identidade de especulador financeiro, uma vez que eles estão em alta. Ao contrário, diria, muitos usam a máscara de especulador financeiro para esconder uma profissão e um estilo de vida não tão glamouroso!” (OESP, 28.12.24).
 
A infiltração do delinquente na vida pública e na atividade privada é um dos elementos comprobatórios de falência da ética e da insuficiência de discursos, teorias, ensaios, teses, dissertações e tantas obras laudatórias do bom comportamento. A linguagem do cifrão é mais forte e parece difícil hoje acreditar-se numa conversão moral que refreasse a desenvoltura com que o crime atua em quase todos os ambientes. 
 
O que ofereceremos às crianças que ainda vão nascer, para que não encontrem uma realidade monstruosa e absurda, em que a ética seja apenas a máscara com a qual os seus inimigos possam ganhar mais dinheiro?

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