José Renato Nalini

Esta sim, merece!

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A proliferação de más notícias obscurece as boas. Verdade que se tem impressão de que o mal prospera e o bem fenece. O desalento é a companhia dos que perderam a esperança de tornar o mundo melhor. Constatar que o mal compensa é potente estimulador do desânimo.

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Por isso mesmo, quando se recebe a comunicação que que a ambientalista Lélia Wanick Salgado ganhou o Prêmio Gulbenkian para a Humanidade, é motivo de júbilo. Há vinte e cinco anos ela e o marido, o festejado fotógrafo Sebastião Salgado, se devotam a reflorestar e a recuperar ecossistemas na sofrida Mata Atlântica.

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O casal criou em 1998 o Instituto Terra, organização que se dedica a restaurar áreas degradadas de floresta e a promover o desenvolvimento rural sustentável no Vale do Rio Doce. Nessa região, que abrange Minas Gerais e Espírito Santo, houve deterioração da natureza resultante de maus tratos ambientais. Eles sentiram profunda tristeza ao ver que a chuva carregou terra ladeira abaixo, fazendo erosões e buracos enormes.

Daí a ideia empolgante: vamos criar uma floresta. E começaram a plantar árvores. Seriam necessárias mais de dois milhões de mudas. Não havia prática nem conhecimento aprofundado. Por isso, cerca de 60% do lote inicial de cinquenta mil mudas não vingaram. A terra era muito prejudicada pela degradação. E a falta de chuvas não ajudou.

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Lélia e Sebastião não desanimaram. Aprimoraram as técnicas e as épocas do plantio. Hoje as árvores ocupam a área prejudicada. Já plantaram mais de três milhões de árvores. E isso fez com que os animais retornassem. Mais de 170 espécies de pássaros, 33 de mamíferos, 15 de anfíbios e outras 15 de répteis. Diante do êxito, surgiu novo programa: “Olhos d’água”, com a ambição de recuperar mais de 300 mil nascentes de afluentes na bacia hidrográfica do Rio Doce.

O casal é uma prova de que a crise climática pode ser mitigada se houver humano com boa vontade e coragem de enfrentar a crueldade que acaba com a natureza e, com isso, apressa o fim dos tempos. Os seres sensíveis não podem deixar de se preocupar com o amanhã de seus filhos e netos.

Que o exemplo de Lélia e Sebastião Salgado frutifique. Não é possível pensar que inexistam outros brasileiros angustiados com o que se faz de perversão nociva, nefasta e letal em relação às nossas matas e cursos d’água. A Terra pede socorro e só os muito privilegiados têm condições de ouvir seus lancinantes clamores.

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*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.    

Foto: Imatbagjagumilar

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