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Quando se lamenta a indigência do debate público, mais afeiçoado a questiúnculas e a mesquinharias do que à defesa dos interesses nacionais, tende-se a generalizar o ambiente político. Para muitos, seria composto de nulidades que empolgam iletrados e, ao preço de favores prestados por conta do Estado, obtêm sinecuras perpétuas. É um exagero pensar que todos os políticos são nulidades ou movidos por ambição que corrompe.
Nem sempre foi assim, nem deverá tal ideia “clichê” prevalecer como técnica de coordenação da busca do bem comum. Já tivemos personalidades maiúsculas, gigantes morais, gente de outra têmpera. É conveniente retirá-la do ostracismo e ressuscitar suas trajetórias, como inspiração para a juventude sequiosa de ética na política.
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Pense-se no que representou para o Brasil a figura de José Bonifácio de Andrada e Silva e o confronto dele com o Padre Diogo Antonio Feijó. Ambos paulistas. O primeiro santista, o segundo paulistano. Donos de personalidade muito forte. Ambos notáveis pelos serviços prestados à Pátria. Mas adversários.
Feijó, enquanto Ministro da Justiça, envolveu-se em pugna colossal com Bonifácio. Queria a demissão do Patriarca das funções de tutor do Imperador Pedro II. Foi um dos grandes acontecimentos parlamentares entre 1831 e 1832. Acusando os Andradas, tanto José Bonifácio como seu irmão Antonio Carlos, da provocação de graves tumultos na capital, Feijó foi bem duro, como era o seu estilo: “Ou José Bonifácio deixa a tutoria, ou eu deixo a pasta da Justiça”.
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Na Câmara, Feijó venceu. No Senado, foi batido por um voto. José Bonifácio continuo como tutor e Diogo Feijó demitiu-se do cargo de ministro. Só que essa demissão deu origem ao chamado golpe de Estado de 30 de julho de 1832. Tal era seu prestígio, tal sua força moral, que todo o ministério também renunciou e, logo em seguida, a Regência Trina.
Diogo Feijó, demitiu-se do ministério, mas foi eleito senador e tornou-se, em seguida, Regente do Império. José Bonifácio foi removido da tutoria do menino imperador e substituído pelo Marquês de Itanhaém. Algo comum entre ambos: esquecidos, injustiçados, morreram sozinhos e abandonados. Os políticos do século XXI deveriam ter presente essa realidade: a fama e a bajulação servem aos cargos, não às pessoas. Não se iludam com o afago hoje oferecido pela mão que amanhã o apedrejará.
* José Renato Nalini é Diretor Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.
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