José Renato Nalini
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Enquanto o mundo parece se importar com o aquecimento global, realizando, pela vigésima sétima vez, um encontro de países interessados em mitigar os efeitos da venenosa emissão de gases, o Brasil se dá ao luxo de eliminar, em cinco anos, 108.463 quilômetros quadrados de seus biomas.
Sim. A informação é oficial, do Prodes Brasil, programa do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Recorde após recorde, somos os campeões da devastação ambiental. Desmatou-se uma área maior do que o Estado de Pernambuco.
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Isso em todos os biomas: Amazônia, cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, caatinga e pampas. É a destruição do patrimônio-maior que o Brasil possui e que poderia alavancar o retorno de capital internacional, sequioso por aplicar em potenciais projetos de descarbonização.
É paradoxal que se afirme a intenção de proteger trinta por cento da biodiversidade mundial e se extermine aquela que o Brasil sequer chegou a conhecer. País miserável em pesquisa, poderia viver de royalties obtidos com produtos de valor agregado existente em sua exuberante flora. Prefere criar pastos e desertos.
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O terrível é que o mais devastado bioma é a nossa Mata Atlântica. Dela, as cifras oscilam, não resta senão um décimo do que um dia foi. Ainda assim, a maior parte na mão de particulares. Sempre desejosos de maior flexibilização no controle ambiental, para ampliar os vazios ecológicos de que resulta nefasta alteração do clima e a disseminação de epidemias.
Sem frear o desmatamento – que deveria ser “zero” – sem reflorestar, que deveria ser uma cruzada incessante, como é que o Brasil vai cumprir o Acordo de Paris, onde se comprometeu a reduzir, até 2030, em 43%, as emissões de gases-estufa? A partir desse ano, a redução seria de 50%. Alguém acredita na observância dessas promessas?
Discursos edificantes, protestos de amor ecológico no mais elevado nível, mas leniência ao sancionar infratores, anistia inadmissível quando o bem lesado ultrapassa o âmbito pessoal para afetar uma legião de viventes, inclusive os que ainda não nasceram! Basta ler com atenção do artigo 225 da Constituição da República.
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Na marcha das contradições e paradoxos em que imerge o bicho-homem, alguém põe a mão no fogo, na certeza de que as coisas vão melhorar?
* José Renato Nalini é Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e autor de “Ética Ambiental” e outros livros.
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