José Renato Nalini
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Você não desconhece a realidade do trabalho nestes tempos duros: há ocupações à procura de gente qualificada. Mas gente qualificada é algo raro num país que fez da educação um adestramento. Obrigou crianças e jovens a decorarem informações desnecessárias, quando uma busca na internet responde a qualquer procura sobre dados.
A escola brasileira não ensina a pensar. Drama que começa no ensino fundamental, prossegue no ensino médio – daí a fuga dos jovens de uma escola chata, sem graça e sem atrativo – e prossegue na Universidade. Aqui, o iletrado não tem dificuldade em obter um diploma. O trágico é: o que fará desse diploma inútil?
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Por isso, aqueles que têm discernimento e sabem distinguir a insuficiência da escolaridade formal, buscam, por si sós, descobrir o caminho para a subsistência digna. Podem, por exemplo, recorrer a uma autoavaliação, a parir do método Keirsey, inventado por David Keirsey. Ele detectou quatro temperamentos básicos: artesão, guardião, idealista e racional. Há muitos outros métodos, inclusive utilizados pelos headhunters, recrutadores especializados em alinhar os interesses da empresa com os profissionais do mercado. Tática exitosa, que leva a iniciativa privada a não ter problemas para a seleção de seus quadros, enquanto o poder público insiste na surrada, anacrônica e superada realização de concursos que só avaliam a capacidade mnemônica do candidato.
O Estado brasileiro precisa de um choque de gestão. Está totalmente necrosado na sua tendência de estatizar tudo aquilo que funciona, mas que ao passar para a gestão estatal, gangrena, se putrefaz, fica inteiramente dominado pela corrupção e debilita, ainda mais, o combalido Erário tupiniquim.
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Não passou pela cabeça dos administradores públicos estudar o que a iniciativa privada, que não tem por si o Tesouro Nacional, faz em termos de seleção de seus quadros funcionais. Há uma ciência denominada “human capital management”, que é a gestão de talentos ou de capital humano. Ela inclui tanto a capacidade de identificação de talentos quanto o desenvolvimento de políticas que ajudem a reter esses funcionários de desempenho acima da média.
Enquanto isso, o governo paga consultorias, fala em meritocracia, mas mantém quadros atulhados de funcionários desalentados, sem proceder a reciclagem, sem pensar em estratégias como um “ano sabático” para os professores que já não conseguem encarar uma classe de alunos desmotivados, que debocham deles, não se interessam por anda e ainda costumam ser violentos.
O governo também desconhece o que seja KPI, a sigla em inglês para key performance indicator, um indicador de desempenho. Há métricas científicas para mensurar o sucesso dos projetos e também para avaliar os seus colaboradores.
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Há quantas décadas sabe-se que o aprendizado é algo permanente? Há quanto tempo se fala em “educação continuada”, sem que isso repercuta em qualquer setor da Administração Pública?
Na empresa privada, o lifelong learning é uma prática rotineira. A formação pessoal e também a profissional prosseguem de modo voluntário ao longo da vida. Os trabalhadores inteligentes sabem que é fundamental estar continuamente a se aprimorar. Mas a inteligência de que se trata é a emocional, a capacidade de reconhecer e de administrar as próprias emoções, além de entender as emoções dos demais envolvidos na mesma situação. Quanto mais inteligência emocional um profissional tiver, maiores serão as chances de ele conseguir atingir o nível de sucesso a que se propôs.
Na verdade, quem precisa de autoavaliação é o governo brasileiro. No momento em que o ambiente – seu maior patrimônio – é destruído, em que se constata que mais de vinte milhões de brasileiros passam fome diariamente, muitos outros milhões sofrem de insegurança alimentar, quinze milhões estão desempregados, como é que o governo avalia a sua performance, em todos os níveis?
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Faz sentido destinar quase seis milhões para eleições com a excrescência de partidos que só pensam em empolgar cargos no executivo e no legislativo, em procurar o autoenriquecimento e se esquecem das necessidades da população?
Uma educação de qualidade teria formado gerações insuscetíveis de serem tão espoliadas como têm sido, na escolha de políticos profissionais que se esqueceram de seu compromisso com o bem comum e só cuidam de eleição e da matriz da pestilência chamada reeleição.
Alguém acredita que o governo um dia se disporá a uma autoavaliação?
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*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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