José Renato Nalini
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Assisto a incontidos receios de quem se apavore com a ideia de que a China dominará o Brasil. Ela é excelente compradora de 70% da nossa soja. Mas aí terminariam as nossas relações com os chineses.
É muita ignorância. Como é que um país complexo, cuja identidade está em construção, resultante de mescla de povos e de interesses distintos, pode se propor o banimento de uma civilização de mais de três mil anos?
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O Brasil ganharia bastante se aprendesse com a China. É o país de Confúcio, que nasceu no ano 551 antes de Cristo e que já pregava: “não façais aos outros o que não quereis que vos façam”. Um povo que cultiva o seu passado, que continua a realizar cerimônias surgidas na Idade do Bronze. Culto consciente e racional pelos mais idosos, algo que aqui necessita de lei com ameaças de sanções. No livro “História da China: o retrato de uma civilização e seu povo”, do historiador inglês Michael Wood, a analogia é interessante: equivaleria aos gregos de hoje cultuando os deuses do Olimpo enquanto são também reféns dos smartphones.
Na China originou-se a teoria do “Mandato do Céu”, ideia de que o governante é um ser ungido pela divindade. Muito depois é que o Ocidente formulou a concepção do “direito divino do monarca”.
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Os chineses sempre foram receptivos ao contato e convívio com outros povos. Manteve conexões diplomáticas e culturais com inúmeros países, servindo-se da Rota da Seda. Foi terreno fértil ao desenvolvimento do budismo, do islã e até do cristianismo. Tem tradição na mobilização popular, apego à educação continuada, mania de perfeccionismo. Por isso conseguem fazer melhor aquilo que outros se orgulham de fazer bem.
Quem aprendeu a admirar o comportamento chinês pela leitura das obras de Pearl S. Buck, que esteve muito em moda no Brasil há algumas décadas, sabe que a aproximação China-Brasil só viria aprimorar os hábitos tupiniquins, recentemente comprometidos por grosseria, superficialidade e primitivismo.
Aproximemo-nos da China. Só temos a ganhar. Um bom começo é aprender mandarim, que logo mais se tornará um idioma universal, como tentou ser um dia o quase desaparecido esperanto.
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* José Renato Nalini é Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.
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