'Vidas Passadas' é uma reflexão que vai muito além de sua história

Depois do estrondoso sucesso de "Parasita", o mundo começou a reconhecer mais o mercado sul-coreano (que vem se fortalecendo também por intermédio das séries da Netflix) e abriu portas para novos projetos que estavam por vir. "Vidas Passadas" é um destes casos, e coincidentemente, também foi indicado para o Oscar de melhor filme e roteiro original. Embora acabou sendo um pouco ofuscado por conta de "Zona de Interesse". 

Escrito e dirigido por Celine Song, temos uma obra que embora pareça normal, se analisarmos a fundo, em tempos de polarização é muito difícil isso ocorrer (principalmente se cada um deles tiver um pensamento político ou social diferente). 

A história gira em torno dos amigos de longa data Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), que embora o destino os tenha separado por conta de decisões da vida, nunca esconderam ter uma ligação especial. Quase duas décadas depois, eles se reencontram em Nova York e durante uma semana passam a refletir tudo que ocorreu em suas vidas.   

Song sabe exatamente como transparecer o sentimento de Nora e Hae Sung desde o primeiro segundo da narrativa e nos pós encontros da dupla, conforme os anos passam. Sensações de dúvida, medos e receios, são vistos e transparecidos conforme o filme avança.

Por conta da atuação de Lee e Yoo (que nitidamente tiveram um grande preparo fora das telas, com tamanha química esbanjada), o espectador se pega torcendo não para eles terminarem juntos, mas para entendermos os verdadeiros sentimentos deles.

A cineasta também é sutil em mostrar como eles possuem sua intimidade, depois de tantos anos, principalmente em uma cena onde eles conversam em coreano, ao lado do marido estadunidense de Nora, Arthur (John Magaro), que não entende o idioma deles.

Neste cenário emocionante, facilmente conseguimos nos colocar no papel de Nora e Hae, pois durante a vida sempre possuímos uma pessoa que nos faça não exibir os sentimentos certos e cause dúvidas ou receios.

"Vidas Passadas" é um recorte sobre como a vida nos entrega surpresas, desafios e sentimentos inimagináveis, quando reencontramos uma pessoa que sempre nos balançou.