Engenharia do Cinema

Os delírios de ‘Coringa’ vão mais além do óbvio

Em decorrência do sucesso que o personagem Coringa fez nos últimos anos, a Warner Bros resolveu realizar um filme sobre a "origem" do personagem. Lançado em 2019, fez mais de US$ 1 bilhão mundialmente (tendo custado apenas US$ 55 milhões) e ainda rendeu os Oscars de atuação para Joaquin Phoenix e trilha sonora. 

Por razões óbvias, o estúdio insistiu que o cineasta Todd Phillips ("Se Beber, Não Case!") fizesse uma continuação. Com sua liberdade criativa autorizada, ele garantiu o retorno de Phoenix e Lady Gaga como uma versão "diferente" de Harley Quinn. "Coringa: Delírio a Dois" opta por explorar ainda mais a loucura do personagem, diante de um espetáculo musical refletido na própria mente do antagonista.

A história começa no ponto onde o original parou, com Arthur Fleck (Phoenix) na prisão Arkham e prestes a começar seu julgamento pelos cinco assassinatos cometidos  no decorrer do longa anterior. Até que um dia ele conhece a misteriosa Lee (Gaga), por quem se apaixona.

Por intermédio de um divertido prólogo concebido no formato de um desenho do Looney Tunes, vemos exatamente o significado da "importância" de Fleck para o violento movimento de Coringas que passou a assolar Gotham. É uma narrativa que abrange não apenas consequências, mas como o alter-ego deste é uma "figura" e não uma pessoa.

A decisão de Phillips em trazer essa trama para um mundo musical se dá ao fato do próprio Fleck ver a realidade como um verdadeiro espetáculo, pelo qual raramente ele discerne o que é fato ou mentira. Tanto que essa é um dos tópicos discutidos na trama, por intermédio da sua advogada, Maryanne (Catherine Keener).

Em algumas interpretações, o diretor é bastante sutil ao inserir referências que preveem os próximos passos da trama. Com um claro exemplo em uma das primeiras sequências musicais, onde vemos em uma televisão o personagem Pepé Le Pew tentando conquistar a sua amada, que nitidamente está "jogando com ele". O mesmo detalhe acontece na relação entre Fleck e Lee.

Mesmo com uma participação relativamente pequena, Gaga foi apresentada de forma inteligente por conta de sua personagem ser o fio condutor da trama. Com sua influência e discursos diante do protagonista, é uma víbora que come pelas beiradas. Mesmo ela sendo tão maluca quanto ele.

Cantarolando em tons arrastados e estranhos, os "delírios" homenageiam nomes como Frank Sinatra, Gene Kelly e clássicos como "Nasce Uma Estrela", "New York, New York" e "Sinfonia em Paris".

Com relação ao restante da trama, existem dois pontos cruciais que comprovam não apenas o talento de Phoenix, mas de Brendan Gleeson (o guarda Jackie Sullivan) e Leigh Gill (que reprisa o papel de Gary Puddles). Este último possui o melhor arco, pois ele exerce de forma natural as consequências do que presenciamos no primeiro filme.

"Coringa: Delírio a Dois" termina como mais uma continuação que nasceu para ser interpretada e absorvida, ao invés de um mero passatempo com reflexões óbvias e cópias das obras de Martin Scorsese.

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