Engenharia do Cinema

'O Auto da Compadecida 2' mostra que é possível estragar uma obra em 2 horas

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"O Auto da Compadecida" é um dos maiores clássicos do cinema nacional. Baseado na obra de Ariano Suassuna, e lançado em setembro de 2000, a produção conquistou uma legião de fãs por onde passou e até hoje é considerado um dos melhores trabalhos de Selton Mello e Matheus Nachtergaele.

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Muito se falou sobre uma possível continuação, que ficou durante vários anos circulando nos bastidores. Só que isso se tornou realidade em 2023, quando foi anunciado que a dupla iria retornar para um segundo filme, assim como o diretor Guel Arraes. 

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Assim como continuações que tiveram grande intervalo de tempo, a produção se debruça na nostalgia e esquece que o público não se sustenta apenas deste fator.

Depois de ficar 20 anos desaparecido, João Grilo (Nachtergaele) retorna para a cidade de Taperoá e reencontra seu grande melhor amigo Chicó (Mello). Além de ter popularizado o renascimento do amigo, graças a uma ordem de Nossa Senhora, ele se torna uma estrela no local. Diante disso, dois políticos rivais o veem como uma oportunidade de ser cabo eleitoral.

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Diferente de "Tropa de Elite 2", que é a melhor sequência já feita pelo cinema nacional, essa pseudo-continuação do clássico de Suassuna não sabe onde quer chegar.

Em uma atmosfera que se assemelha a uma peça teatral, ao mesmo tempo que coloca diversas passagens em formatos de esquetes, o que era para ser um resgate do original, se torna uma sessão de tortura.

Infelizmente é perceptível que houve conflitos entre a direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda, uma vez que ambos possuem estilos técnicos diferentes em suas abordagens.  

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Sem entrar no mérito das atuações de Mello e Nachtergaele, que estão bem fracos em relação ao original, o design de produção, diálogos, fotografia, figurino e ambientação parecem terem sido reciclados de novelas de época da própria Rede Globo.

Não existe mais um cuidado técnico como antes, muito menos um tratamento com os coadjuvantes. Eles apenas prometem entregar algo, mas só são inseridos para cumprirem tabela com os que haviam falecido no original. 

Inserções como as de Eduardo Sterblitch (Arlindo), Fabiula Nascimento (Clarabela), Luis Miranda (Antonio do Amor) e Humberto Martins (Coronel Ernani), só se assemelham com rascunhos do que os vimos no primeiro. Nenhum deles é interessante ou relativamente importante como deveriam ser.

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Isso porque ainda não entrei na vertente da substituição do papel de Nossa Senhora. Antes interpretada perfeitamente por Fernanda Montenegro, onde ela poderia ter ficado sem falar nada e já estava ótima, agora a função caiu para Taís Araújo. 

Com falas tiradas de parachoques de caminhões e de perfis de "animes" das redes sociais, não existe naturalidade em sua versão da personagem. O único sentimento transposto é o da vergonha. No meio do caos, o retorno de Virginia Cavendish como Rosinha (interesse amoroso de Chicó) é uma das únicas coisas que realmente funcionam, pois ela possui uma ótima química com Mello.

"O Auto da Compadecida 2" é mais outra continuação horrorosa feita pelo cinema nacional, que mostra o quão os produtores ainda acreditam apenas nas marcas e não na sua qualidade. 

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