Engenharia do Cinema
Ataques a atriz nas redes só são prejudiciais
Universal Pictures/Divulgação
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A 97ª edição do Oscar 2025 entrará para a história, e isso não é novidade. O brilho da vitória de "Ainda Estou Aqui" foi brevemente ofuscado por algo ainda pior: a arrogância dos brasileiros.
Isso não começou a acontecer por conta da merecida vitória de Mikey Madison, mas sim durante a possibilidade de "Emilia Pérez" vencer na categoria de filme internacional em cima da produção de Walter Salles.
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Mesmo que a campanha da Netflix em cima do longa pseudo-mexicano tenha sido alta, grande parte da mídia e usuários de redes sociais começaram a denegrir a produção de Jacques Audiard.
Estes, que em grande parte fazem posts pela "paz e união" em seus discursos no Facebook ou em danças de TikTok, estavam pregando ódio e desdenhando qualquer pessoa que fizesse elogios à produção estrelada pela espanhola Karla Sofía Gascón.
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Só que aí entra uma questão interessante: alguma destas pessoas assistiu a "Emilia Pérez" e tentou entender o contexto dela ter entrado no Oscar?
Será que essa pessoa (ou militante), sabe que foi justamente a Greta Gerwig (a mesma que fez o filme da "Barbie", que também "não podia" ser criticado) que PROMOVEU este filme enquanto ela era Presidente do Júri de Cannes em 2024 e vendeu como a maior maravilha do mundo?
Mesmo que não seja ruim, muito pelo contrário, ele é um filme divertido dentro da sua proposta de ser uma novela mexicana com atores de Hollywood. Honestamente, só entrou para o Oscar por causa da Greta e da própria Netflix.
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Por questões dramatúrgicas e de divulgação, temos Zoë Saldaña citada como coadjuvante no Oscar, embora ela seja a protagonista.
Carregando o filme nas costas, pois tanto Karla, quanto Selena Gomez, não são boas atrizes, pode-se dizer que Zoë mereceu o prêmio. Lembrando que ela ainda falou em espanhol e cantou no idioma durante boa parte de suas cenas, ou seja, algo bem difícil de se fazer.
Diante deste cenário, muitos brasileiros simplesmente estavam desdenhando ódio para cima da própria Zoë só por ela ter sido vencedora de atriz coadjuvante. Categoria que o Brasil sequer teria como concorrer com "Ainda Estou Aqui".
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O debate sobre cinema foi deixado de lado para só ser focado em uma vazia briguinha de quinta série, onde muitos ainda estão esperando a coordenadora vir com a advertência. E essa veio direto com a suspensão, onde entrarei na próxima vertente.
O pior ainda estaria por vir. Não é novidade que a categoria de melhor atriz estava bem complicada neste ano, pois Fernanda Torres, Demi Moore e a própria Mikey Madison, estavam excelentes em seus papéis.
Entrando de cabeça na encarnação de suas personagens, era difícil selecionar qual delas era a melhor.
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Com a vitória de Madison, muitos brasileiros já começaram a falar que ela era a "nova Gwyneth Paltrow" (que apenas ganhou por conta de um "abafa o caso" por parte de Harvey Weinstein), que o prêmio foi dado a ela por que o Oscar gosta de "mulheres jovens", entre outras coisas.
Brincadeiras sadias fazem parte do jogo, sempre. Infelizmente muitos começaram a levar ao lado pessoal e desferir ameaças, entre outras coisas.
Infelizmente, a Academia se viu obrigada a "esconder" no Brasil o post com a vitória de Mikey Madison, pois a atriz segue recebendo ofensas, ameaças e represálias dos brasileiros que militam na internet, e acham que vão alterar alguma coisa. Algo que a própria Fernanda Torres já declarou que não aceita.
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A parte engraçada é que a própria atriz já revelou não ter redes sociais por não achar nada de útil para compartilhar por lá. A parte mais bizarra, é que alguns brasileiros parecem desconhecer essa informação e resolverem proferir ofensas em páginas fake ou de fãs dela.
Só que um fato que me chamou a atenção, é "será que alguém parou para assistir 'Anora'"? Perceptivelmente, grande parte das pessoas que se pegam nesta vertente de ódio, sequer se deram ao trabalho de estudar e analisar a fundo que Mikey também fez um papel difícil.
Não hesito em dizer que ela não apenas mereceu o prêmio, como foi tão complicado exercê-lo quanto foi o para Emma Stone, que venceu por "Pobres Criaturas" em 2024. Mesclando sexo, cenas de nudez constantes e ainda alterando os tons constantemente, ela convenceu desde o primeiro segundo.
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Possivelmente, essas atitudes dos brasileiros servirão como reflexo negativo para o país nos próximos anos, dentro da área cinematográfica. A Academia pode até refletir mais de uma vez antes de cogitar colocar algum brasileiro entre os indicados, ou até conceder o careca dourado, na principal premiação do cinema.
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