Engenharia do Cinema

'Ferrari' é um encontro entre 'Casos de Família' e 'Corrida Maluca', que deu certo

Continua depois da publicidade

Após ficar quase 30 anos tentando tirar este projeto do papel, o cineasta Michael Mann (“Fogo Contra Fogo”) ouviu vários “nãos” por grande parte de Hollywood. Mas tudo mudou em 2015, que graças a produtora STX Entertainment, ele percebeu que finalmente poderia realizar sua tão sonhada cinebiografia de Enzo Ferrari.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Logo, Mann tratou de escalar Christian Bale (que já haviam feito juntos “Inimigos Públicos”, em 2009) para interpretar o empresário, mas por conta de conflitos de agenda, o ator teve de se abster do papel. Um tempo depois, foi passado para Hugh Jackman e por conta do mesmo motivo, pulou fora, quando finalmente chegou em Adam Driver, no começo de 2022.

Continua depois da publicidade

Mas infelizmente vem sendo um fracasso mundialmente, pois custou US$ 110 milhões e até o presente momento rendeu apenas US$ 40.25 milhões.

Embora não apresente a fundação da Ferrari em si, o enredo inspirado no livro de Brock Yates foca totalmente no período de crise que a empresa viveu em 1957, quando estava prestes a cogitar uma eventual venda para a Ford. Diante deste cenário Enzo (Driver) e sua esposa Laura (Penélope Cruz), notam uma nova e última chance de conseguirem se reerguer ao apostar suas fichas na corrida de Mille Miglia, que percorrerá uma longa distância por toda Itália.  

Continua depois da publicidade

Michael Mann é um diretor que já comprovou que sabe conduzir cenas dramáticas e de ação (“Fogo Contra Fogo” está aí como exemplo), e aqui ele deixa isso explícito desde os primeiros 15 minutos, quando ele explana que a narrativa terá como foco a conturbada relação de Enzo e Laura, que ainda carregam a morte precoce de seu único filho.

Enquanto ele desconta seus dramas na vida paralela com sua amante Lina Lardi (Shailene Woodley, bem deslocada no papel), cuja relação teve como fruto o então pequeno Piero (Giuseppe Festinese), Laura ainda transparece o drama de ter perdido quem mais se importava. 

Em excelente atuação de Cruz (embora ela ainda carregue muito o estilo de Maria Helena, em “Vicky Cristina Barcelona”, papel que lhe rendeu seu Oscar), sentimos a todo momento que sua vida carrega traumas, decepções e literalmente seu sentido foi perdido há tempos. Pena ela não estar indicada ao Oscar deste ano.

Continua depois da publicidade

O mesmo não se pode dizer de Adam Driver, que honestamente não conseguiu casar bem com Enzo, pois seu sotaque italiano soa estranho e forçado na maioria da projeção (se assemelhando mais ao Super Mario, do que ao fundador de uma das maiores empresas automobilísticas da história).

Há também espaço para a grande entrada do brasileiro Gabriel Leoni (que interpreta o piloto espanhol Alfonso de Portago), cujo estilo se assemelha a um jovem Antonio Banderas, mas sua presença em cena é digna de tal personagem e ofusca até grandes colegas de cena como Patrick Dempsey (intérprete de Piero Taruffi).

Agora partindo para as cenas de ação, Mann mostra que não depende de CGI para explanar boas tomadas deste gênero. Por exemplo, o arco envolvendo um determinado acidente (que até hoje é um dos piores na história das corridas) que choca por conta de seu teor cru de violência gráfica. Nas mãos de um diretor errado, isso sequer seria mostrado.

Continua depois da publicidade

“Ferrari” termina sendo um retorno triunfal de Michael Mann, e é mais outro injustiçado em várias categorias no Oscar 2024.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software