Engenharia do Cinema
Produção foi indicada em 13 categorias do Oscar
Paris Filmes/Divulgação
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Com 13 indicações ao Oscar, "Emilia Pérez" chegou na premiação cercada de polêmicas (pelas quais irei me abster de abordar) e dúvidas se realmente as nomeações eram dignas.
Ao conferir a produção dirigida pelo francês Jacques Audiard ("O Profeta"), a sensação era de assistir a uma novela mexicana de alto orçamento protagonizada por estrelas de Hollywood.
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Durante seus quase 130 minutos de duração, a narrativa não justificava sua presença na premiação mais importante do cinema, assim como também do próprio Festival de Cannes, onde venceu o Prêmio do Júri (presidido por Greta Gerwig, de "Barbie") e nas categorias de atuação para Zoe Saldaña, Selena Gomez, Karla Sofía Gascón, Adriana Paz. Em outras palavras, a Netflix soube construir um lobby para o filme.
A história gira em torno da advogada Rita (Zoe Saldaña), que é contactada pelo perigoso traficante Manitas (Karla Sofía Gascón) para lhe auxiliar em um trabalho inusitado: o ajudar a se tornar uma mulher. Ao conseguir isso ambos se distanciam. Depois de quatro anos, e agora sob o nome de Emília Pérez (também interpretada por Gascón), ao se reencontrar Rita ela resolve não apenas voltar a ter contato com sua família, como consertar os erros do passado.
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Citar os problemas técnicos desta obra é algo bastante complexo, uma vez que o próprio Audiard usufrui dos mais diversos clichês para contar a história de Pérez.
A começar que Saldaña e Selena Gomez perceptivelmente tiveram um apoio na pós-produção em relação a pronúncia do espanhol, já que elas não são latinas, muito menos mexicanas. Isso é notado se prestarmos atenção em seus lábios, pois eles não batem com as falas na maior parte do tempo.
Isso se inclui nas cenas musicais, como em "Bienvenida", cujo trabalho de mixagem de som parece uma verdadeira montanha russa acústica (de tamanha problemática).
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Ainda na vertente das duas atrizes, enquanto a primeira não apenas está em uma das suas melhores atuações na carreira, e esbanja naturalidade (sua vitória nas premiações e, possivelmente no Oscar, estão sendo justas), a segunda parece não apenas estar forçada no papel, como consegue ser pior que qualquer interpretação das novelas mexicanas exibidas pelo SBT.
Já Karla Sofía Gascón está apenas operante no papel, mas não chega a ser uma interpretação que merecesse estar no Oscar. Ela é o peso entre Zoe e Selena, e consegue ser o grande contraponto na trama.
Porém, a sensação de clichê é perceptível quando entra em cena o personagem Gustavo (Edgar Ramírez), que nada mais é que o clichê máximo deste tipo de narrativa. Com um chapéu de cowboy e bigode, temos o típico "Paulão" (ou antagonista) da história.
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Só que ao colocar tudo em uma balança, o resultado final não chega a ser catastrófico, muito pelo contrário, ele é até divertido se visto na perspectiva de uma produção que homenageia as telenovelas mexicanas.
"Emilia Pérez" termina como uma interessante obra no estilo das tradicionais novelas mexicanas, só que não merecia tamanho reconhecimento que possui.
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