Em dado ponto do enredo, no meio do caos que os EUA estava vivenciando, a personagem da atriz Kirsten Dunst (a jornalista Lee), fala que eles apenas contam os fatos com suas fotografias e deixam a opinião para o público. Com base neste argumento, o cineasta Alex Garland ("Ex-Machina") conduz sua narrativa de uma forma sutil, mas sempre reflexiva.
Após o Presidente dos EUA (Nick Offerman) continuar assumindo o cargo para um terceiro mandato e deixar o país à beira de uma Guerra Civil, os jornalistas Joel (Wagner Moura), Lee e Sammy (Stephen McKinley Henderson) resolvem viajar até a Casa Branca, para conseguir uma entrevista com o próprio. No caminho, eles se juntam com a jovem Jessie (Cailee Spaeny) e presenciam a brutalidade que a nação entrou.
A direção e roteiro de Garland procura deixar a sua narrativa na perspectiva dos próprios fotojornalistas, cujas fotografias se tornam um meio de contar o que está acontecendo naquele cenário. Não há uma explicação aos fatos, mas sim contextos que são mostrados e cabe a nós interpretá-los.
Regado com cenas de ação muito bem conduzidas, momentos de suspense que nos pegam quase sempre desprevenidos (inclusive alguns não nos faz tirar os olhos da tela, muito menos respirar tranquilo), pelas quais funcionam justamente por conta do ótimo tratamento que há no texto.
Em momento algum beirando para um lado da política, seja esquerda ou direita (embora existam críticas sutis a ambos os lados), o intuito deste enredo é mostrar como uma nação pode se digladiar por conta de ego entre seus líderes, e ao mesmo tempo, uma parte da população apenas quer fazer o seu trabalho.
É neste cenário que Kirsten Dunst convence facilmente como Lee, pois em sua feição vemos que ela é alguém que já presenciou de tudo e está bastante cansada de viver neste estilo de vida. Sem dúvidas, é um dos melhores papéis dela.
Já Wagner Moura (que curiosamente, é formado em jornalismo), está mais para a sua muleta do positivismo, pois serve apenas para completar sua trajetória. Mas não chega a ser um grande papel da carreira dele (para efeito de comparação, em "Elysium", que foi sua estreia em Hollywood, ele estava melhor).
Com relação a Cailee Spaeny, não hesito em dizer que sua personagem serve apenas para cumprir uma lacuna de clichês, ou melhor, ser uma facilitação narrativa. Tanto que neste contexto, o famoso "e se ela não existisse", teríamos outras coisas sendo apresentadas.
"Guerra Civil" termina como mais uma interessante produção que homenageia a profissão de jornalista, com ótimas cenas de ação e suspense.