Engenharia do Cinema
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Martin Scorsese dispensa apresentações. Em seu mais recente projeto "Assassinos da Lua das Flores", ele resolveu simplesmente juntar, pela primeira vez em sua filmografia, seus dois constantes colaboradores e amigos de longa data: Robert De Niro e Leonardo DiCaprio.
Inclusive vale recordar que ambos já atuaram juntos há 30 anos, no clássico"O Despertar de Um Homem", e por conta disso o veterano já havia alertado a Scorsese naquele tempo para começar a trabalhar com DiCaprio. O resultado não poderia ter sido outro, pois aqui trata-se de mais um acerto do trio.
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Baseado no livro de David Grann, a história gira em torno de Ernest Burkhart (DiCaprio) que se muda para uma região dominada pela tribo indígena Osage, pelos quais se tornaram bilionários após descobrirem petróleo em suas terras. Ao chegar no local, ele se direciona para a casa de seu tio William Hale (De Niro), e ambos acabam se envolvendo em um cenário de misteriosos assassinatos de membros da Osage. Sem ter uma investigação a nível local, este acaba se tornando o primeiro grande caso investigado pelo FBI.
Assim como os últimos projetos de Scorsese, este também possui uma metragem extensa com duração de três horas e meia. Só que por conta do fator narrativa ser muito bem executado, facilmente conseguimos adentrar neste universo e nos importarmos com seus protagonistas.
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Vemos que isso também é bem executado por intermédio do roteiro escrito pelo próprio Scorsese com Eric Roth, quando eles nos apresentam detalhadamente a cultura Osage, com ênfase nos seu idioma, tradições, vestimentas, comportamentos e pequenos detalhes que acabam pesando na hora de criarmos empatias por eles.
Nesta ambientação, percebemos que o próprio Scorsese honrou seu orçamento de US$ 200 milhões ao colocar os cenários da cidade, sendo realmente executados de forma prática e não é apelado para um CGI sem necessidade (honrando suas críticas a geração de filmes da Marvel/DC). O veterano sabe quando é a hora de guiar uma cena externa e uma dramática, sem apelar para recursos amadores como jogos de câmeras e trilha sonora batida.
Inclusive, a musicalidade é assinada por Robbie Robertson, que sabe mesclar a pegada das notas, em uma maneira que entrelaçadas com a fotografia de Rodrigo Prieto, transpõem tudo com maestria e tudo se assemelha a uma verdadeira obra de arte. Não duvido que ambos ainda podem levar o Oscar, por estes trabalhos (embora há uma disputa acirrada com "Oppenheimer".
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Com relação às atuações, embora De Niro e DiCaprio estejam ótimos mais uma vez (embora não seja a melhor atuação na carreira da dupla), o show cai em cima de Lily Gladstone ("First Cow") que literalmente não se esforça para roubar a cena, mas sim o protagonismo do filme para ela. Acompanhamos sua trajetória dentro deste contexto caótico que assola sua família, assim como ela própria (não irei adentrar em spoilers), mas a evolução de sua personagem Mollie é muito bem escrita e com seus olhares consegue peitar a dupla citada, até em uma simples conversa informal. Apenas Emma Stone, com seu "Pobres Criaturas" que irá conseguir tirar o careca dourado dela.
"Assassinos da Lua das Flores" termina sendo mais uma aula conduzida por Martin Scorsese, onde ele termina com um gosto de que realmente ele sempre será um dos maiores nomes do cinema.
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