Engenharia do Cinema
Estrelado por Mikey Madison, o enredo não só estabelece um sutil jogo de gato e rato, como também trata-se de uma comédia pastelão hilária e reflexiva
Mikey Madison interpreta Ani em 'Anora' / Foto: Universal Pictures
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Após ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024, "Anora" começou a chamar a atenção dos cinéfilos, já que a maioria dos últimos vencedores passaram a roubar a cena no Oscar (principalmente "Parasita").
Estrelado por Mikey Madison ("Era Uma Vez Em... Hollywood"), o enredo não só estabelece um sutil jogo de gato e rato, como também trata-se de uma comédia pastelão hilária e reflexiva.
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A história gira em torno da stripper Ani (Madison), que recebe um convite do jovem bilionário Ivan (Mark Eydelshteyn) para ser sua garota de programa por uma semana. Só que durante uma viagem para Las Vegas, eles resolvem se casar e essa decisão gera consequências sérias para ambos.
O diretor e roteirista Sean Baker ("Red Rocket") sabe que está lidando com assuntos delicados em sua premissa, pelos quais se não tivesse muito cuidado em sua retratação, poderia se tornar uma produção com fortes teores eróticos e que não chegariam em lugar algum (vide o recente "Babygirl").
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Felizmente ele sabe até que ponto pode explorar esses assuntos, pois ele divide a sua trama em duas camadas que são bastante distintas. Na primeira vemos o lado da luxúria, com Ani e Ivan mergulhados em um cenário repleto de farra, sexo e dinheiro.
Em um segundo momento, somos explanados as consequências destas decisões e é a partir deste ponto que o lado cômico e dramático de Madison é colocado à tona.
Sua primeira cena com os capangas contratados pelos seus sogros para "detê-los em casa", é uma das mais divertidas do longa. Com uma atmosfera de humor pastelão com bastante naturalidade da parte dela e dos outros atores, vemos também que não se trata de uma simples comédia.
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A naturalidade em si da cena já se comprova pela ausência de trilha sonora (já que o foco não era este) e o trabalho de mixagem de som, que foca em enfatizar os ruídos de tapas, escorregões e claro, os gritos e palavrões de Ani.
Depois dessa inusitada passagem, a narrativa entra em seu lado mais humano, mas de forma homeopática, na relação entre ela e o misterioso capanga Igor (Yura Borisov).
Depois de um inusitado primeiro encontro, aos poucos não só o público vai criando uma empatia com ele, como passa a compreender que ele não é apenas um mero "casca grossa no ambiente". A sua indicação ao Oscar foi justa. Por intermédio dele, começamos a enxergar Ani sobre um novo, e mais humano, olhar.
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"Anora" termina como uma divertida produção de comédia dramática, que ao mesmo tempo que nos faz rir, reflete sobre o que realmente importa.
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