Bola ao Léo

James Rodríguez: um dos últimos 'camisas 10' do futebol mundial

Técnica, passe diferenciado, chute de longa distância, drible curto, visão panorâmica do campo, fazer a bola correr sem precisar correr junto, características de um maestro do futebol, um legítimo "camisa 10", quase extinto nos dias atuais. Com a necessidade de força física constante e entrega na marcação, a "genialidade" vem sendo substituída pela "aplicação tática" e trazendo ao futebol menos jogadores com diferença técnica individual na função de armação de jogadas. James Rodríguez tem todas as características citadas acima e apresentou-as ao mundo em uma Copa e vencendo Champions League.

O camisa 10 clássico é raro no futebol de hoje. Os grandes armadores no futebol mundial são ou atletas que jogam mais de "8" do que de "10" ou atletas que são mais atacantes do que armadores de fato. No Brasil, temos grandes jogadores que exemplificam este cenário. Renato Augusto talvez seja o melhor passador no País, de melhor visão, de lançamento diferenciado, mas é um camisa 8, não um 10. Ele joga entre o volante de marcação e o armador que fica mais perto do gol a todo momento. Arrascaeta é unanimidade no futebol brasileiro, consolidado como um dos melhores gringos da história do nosso futebol, mas no exterior não é tão reconhecido como aqui. Na seleção uruguaia alterna entre titular e reserva e no futebol europeu ainda não teve sua chance de se provar.

Paulo Henrique Ganso talvez seja o melhor exemplo: é um camisa 10 clássico. Não precisa se aplicar na marcação, não corre quilômetros desnecessários sem a bola, é bola no pé e genialidade. Passe diferenciado, visão de jogo ampla, mágico de ver. Porém, sua passagem no futebol europeu não foi de muito sucesso. Ganso não deixou saudades no Sevilla, da Espanha, nem no Amiens, da França. Viu que sua diferença técnica não se sobressaiu à entrega tática.

James Rodríguez conseguiu, em uma Copa do Mundo, e no futebol europeu, grandes momentos de um camisa 10 em campo. Artilheiro do Mundial no Brasil em 2014, demonstrou sua qualidade ganhando o Prêmio Puskás, de gol mais bonito do mundo naquele ano, em um golaço contra o Uruguai. Vendido ao Real Madrid, teve uma readaptação forçada: não pôde jogar de 10, mas sim caindo para a ponta, ainda assim teve bons momentos. Um atleta que entra em campo mais de 120 vezes vestindo a camisa merengue e que totaliza quase 80 participações diretas em gol, não pode ser chamado de fracasso.

Se James decepcionou na Espanha, só mostra como sua qualidade é absurda, para mesmo com 79 gols + assistências em 125 jogos, demonstra o quão habilidoso ele mostrou ser. No Bayern teve altos e baixos, com os primeiros 6 meses sendo considerados por muitos seu melhor momento pós-Copa. No Everton, da Inglaterra, foi o melhor jogador da acirrada Premier League em seus primeiros três meses lá. Intensidade não ofuscava a técnica. Porém, acabou caindo de rendimento, e no futebol do Qatar ou da Grécia, não é um parâmetro para avaliarmos o jogador.

Tiquinho Soares deixou o futebol greco sem grandes números. No Brasil, o centroavante é o artilheiro disparado do Brasileirão deste ano, pelo Botafogo. James tem bons números de participações diretas em gols por lá, mas o número de partidas disputadas que é baixo, e este sim é um fator que deve preocupar.

O calendário brasileiro é um demolidor de atletas, jogos atrás de jogos sem uma recuperação física adequada geram lesões ou incômodos musculares que fazem atletas desfalcarem seus clubes em diversos jogos. Para um James Rodríguez que já não atuava muito nos calendários mais espaçados, será interessante ver como se portará em um calendário apertado como o brasileiro.

Contratado pelo São Paulo, James pode se basear no último armador que o clube teve: Martín Benítez. O argentino era querido por boa parte da torcida e demonstrava lampejos de genialidade com grandes passes, jogadas, e até gols decisivos. Mas sua questão física foi determinante para abreviar sua passagem. Jogava pouco, desfalcava muito a equipe. A atuação do argentino contra o Corinthians na Copa do Brasil pode até ter deixado saudades nos tricolores: ele saiu do banco e marcou um gol além de dar uma assistência para levar a partida para os pênaltis, foi o melhor em campo. Mas justamente por sair do banco, não aguentaria o rendimento neste nível em 90 minutos. James tem muito mais qualidade que Benítez, mas teremos de esperar para ver qual a diferença na resistência física entre eles.

O contrato é bom, terá tempo para mostrar que aquele jogador mágico da Colõmbia ainda tem ambições na carreira. Qualidade? Tem de sobras. Tem habilidade o suficiente para ser o melhor meia do País, mas ele não terá o que Renato Augusto, Arrascaeta e outros grandes meias no Brasil possuem: adaptação de anos. Os outros dois já são vencedores aqui, resta ao colombiano correr atrás dos títulos, pois condições ele tem. E claro, ninguém joga sozinho. Veremos até que ponto o time do São Paulo irá ajudar (ou atrapalhar) o meia em campo.

 

*foto: Reprodução/SaoPauloFC

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