Walter Titz Leite Neto, formado na Escola Latino Americana de Medicina com especialidade em Saúde Pública pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) / Nair Bueno/Diário do Litoral
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Esta semana, o Governo Federal comemorou o fato de que 97,8% das vagas abertas do Programa Mais Médicos terem sido preenchidas (8.319 de 8.500). No entanto, somente 738 (8,9%) profissionais apareceram para trabalhar, segundo o Ministério da Saúde. O prazo para se apresentarem é 14 de dezembro.
Na Baixada Santista, só foram preenchidas 13 das 84 vagas deixadas pelos cubanos, o que corresponde a 15,4% do total. O Diário conversou com dois médicos brasileiros que participaram do Mais Médicos.
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A médica entrevistada, autora da frase acima, preferiu não ser identificada por conta de represálias que já vem sofrendo.
Já Walter Titz Leite Neto, formado na Escola Latino Americana de Medicina com especialidade em Saúde Pública pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fez questão de revelar algumas diferenças e desmentir boatos sobre o programa. Confira:
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Diário do Litoral (DL) - O médico cubano se sente escravo?
Walter Titz – Temos que analisar a raiz da questão. Para boa parte da sociedade brasileira, médico se forma para ganhar dinheiro. Considera ser médico um status. Até a população mais pobre entende que, por conta dos anos de estudos, o médico é uma pessoa superior. Em Cuba, quem forma o médico é o povo, que contribui para que o Estado forme profissionais e dê estrutura de saúde. Cuba possui os melhores indicadores de saúde a América e até dos EUA. As missões cubanas ocorrem desde 1963, quando Cuba já estava em mais de 30 países. Então, quando é assinado um convênio como o Mais Médicos, os cubanos já sabem e aceitam o desconto de salário, porque encaram pelo ponto de vista internacionalista solidário, base de sua formação. Em Cuba, não se trabalha em quanto estuda. Alimentação, moradia, livros, transporte, enfim, tudo é mantido pelo Governo. Lá, quanto mais você estuda, mais você tem apoio governamental. O investimento no ser humano e na ciência é enorme.
DL – Explica melhor.
Walter Titz – O médico cubano sabe que o seu país ampara toda a sua família. A percentagem (70%) é toda revertida na formação de médicos, para a indústria farmacêutica, assistência gratuita e total de saúde, construção e estruturação de hospitais, compra de equipamentos, desenvolvimento de vacinas e estudos. Cuba produz quase 30% dos medicamentos que consome.
DL – Você acredita que os 30% que ficam com o médicos são suficientes?
Walter Titz –Eu sou brasileiro e trabalho de ônibus. Em Cuba, professores, médicos e diversos profissionais andam de ônibus, de bicicleta, porque as relações humanas são fundamentais na formação. O cubano é muito simples e preserva as relações sociais. Não se apega a bens materiais. A preocupação é com a formação intelectual. O cubano prefere ser do que ter. Eu convivi com inúmeros médicos cubanos que estavam na Baixada e nunca ouvi qualquer reclamação de salário. Eles recebem também auxílio moradia, alimentação e transporte.
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DL – Para o cubano, a visão de medicina é diferente então?
Walter Titz – O médico cubano encara, toca, conversa com o paciente. A clínica é a mãe da medicina. No Brasil, a prioridade é o exame. Muitas vezes o médico nem te olha ou toca. Exames têm que ser ferramentas complementares. O diagnóstico é clínico. Pacientes de muitos lugares no Brasil nunca viram um médico e sequer foram tocados por um. O Mais Médico mudou isso. Somos médicos e não médiuns. Tem médico que parece que está psicografando cartas ao escrever uma receita.
DL – É preciso atendimento humanizado?
Walter Titz - A medicina cubana é holística. Envolve o psicológico e o social. O Mais Médicos melhorou índices de lugares em que os índices de mortalidade materno-infantil eram maiores que a média brasileira. O primeiro-ministro do Haiti, por exemplo, chegou a declarar, em 2014, que se não fosse os médicos e médicas cubanas, o país teria desaparecido. Enquanto o Brasil e a Argentina mandavam soldados, Cuba mandava médicos e professores.
DL – Qual o segredo?
Walter Titz – Cuba é pioneira na atenção primária, que é o médico de saúde da família. O presidente Fernando Henrique Cardoso trouxe os cubanos para Tocantins.
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Médica – Muitos problemas são solucionados na atenção primária. Em Cuba, cada 480 famílias tem um consultório médico de família próximo. Também existem postos avançados nos bairros para exames todos os tipos de exames. Isso evita sobrecarga nos hospitais. Evita gastos com exames caros e desnecessários e até das pessoas contraírem outras doenças. A atenção básica é inspirada no modelo cubano. Ela foi idealizada para solucionar 80% dos problemas. A população brasileira não se reconhece no modelo de medicina brasileiro, de interpretação de exames. A medicina cubana usa os cinco sentidos primeiro, a clínica pela clínica desde o primeiro ano de faculdade. Médico cubano não se sente melhor do que ninguém e trata todos, pacientes e outros profissionais de saúde, de forma igual. Não somos médicas, estamos médicas. Somos formadas para servir a população e não para sermos servidas por ela.
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