Brasil

Desigualdade racial e de gênero ainda persiste no mercado de trabalho

Pesquisa revela que mais da metade das mulheres e quase 60% dos profissionais negros, em algum momento, não tiveram as mesmas chances que os colegas

Gladys Magalhães

Publicado em 12/02/2022 às 22:05

Atualizado em 13/02/2022 às 14:12

Compartilhe:

40% das mulheres declararam já terem sofrido algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho, percentual sobe para 48% entre as pessoas negras / Diego_cervo

Em algum momento da trajetória profissional, 54% das mulheres e 58% dos profissionais negros, incluindo homens e mulheres, alegam não terem tido as mesmas oportunidades quando comparadas às dadas aos colegas de trabalho.  Os dados fazem parte da Pesquisa Dos Profissionais Brasileiros, realizada pela Catho e divulgada no início de fevereiro.

 O levantamento revela ainda que 40% das mulheres declararam já terem sofrido algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho, percentual que sobe para 48% entre as pessoas negras.

“Infelizmente o mercado de trabalho ainda discrimina profissionais pela sua raça ou gênero, o que é inadmissível. O fato de mulheres e negros terem menos oportunidades do que profissionais homens e brancos é mais uma prova disso. E isso não está restrito ao mercado de trabalho, é um reflexo da sociedade que precisa urgentemente rever os seus conceitos”,  lamenta a gerente sênior da Catho, Bianca Machado.

Para o mentor e psicólogo Sérgio David, empresas refletem a história e sociedade brasileira

Caminhos para a mudança
O mentor e psicólogo Sérgio David também acredita que as empresas refletem a história e sociedade brasileira. “Vivemos numa sociedade preconceituosa que, por anos, negou espaço e diminuiu a importância desses dois públicos. Apesar de hoje haver muitos direitos garantidos, essa imagem de incapacidade intelectual e despreparo permanece e afeta as oportunidades nas organizações. Apesar de negros e mulheres serem a maioria da população brasileira, ainda são minoria em cargos de liderança o que reforça a ideia de que esses públicos até podem ocupar posições dentro das empresas, desde que em cargos operacionais e administrativos, não em cargos de decisões.”

A especialista em recolocação Andréa Greco, diretora da Alcance Assessoria, lembra que, segundo dados da ONU, cerca de 90% da população mundial tem algum tipo de preconceito contra as mulheres e que, em 2019, o salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que o dos brancos. Para ela, o caminho para diminuir as desigualdades passa por conscientização das empresas.

“Tudo começa pela cultura da empresa em saber realmente se está disposta a deixar para trás estes preconceitos, ter uma conscientização interna, fazendo campanhas com a área de comunicação e depois com o RH modificando a forma de recrutamento”, observa Andréa.

A professora Miriam Rodrigues, especialista em gestão de pessoas da Universidade Presbiteriana Mackenzie também aposta no engajamento das empresas e da sociedade como um todo para mudanças efetivas. “É necessário ir além dos discursos, atuar de maneira prática e efetiva, com ações decorrentes do diálogo e construção conjunta entre as partes envolvidas.”

Envolvimento dos líderes
Sérgio lembra que muitas empresas, de olho na lucratividade, já começaram a mudar sua cultura. Contudo, ele ressalta que é importante o envolvimento dos líderes, bem como a formação de grupos de diversidade nas empresas para encabeçarem essas discussões , além da realização de ações afirmativas que envolvam a valorização e capacitação do público interno para ocuparem outros cargos.

“Em tempos de validação e reconhecimento de direitos, as empresas que se posicionam favoráveis a compor seu quadro de forma mais plural ganham pontos com camadas sociais que simpatizam com a causa e/ou se sentem representadas. O que aumenta a credibilidade da empresa e gera um impacto positivo na lucratividade. As empresas também aumentam sua lucratividade quando investem em culturas diversas e inclusivas porque com isso ampliam a discussão empresarial, melhoram a criatividade e a tomada de decisão”, diz Sérgio.

A especialista em recolocação Andréa Greco lembra que, segundo dados da ONU, cerca de 90% da população mundial tem algum tipo de preconceito contra as mulheres

Da teoria à prática
Algumas empresas já começam a tirar do papel suas ações para se tornarem mais diversas. A própria Catho já realizou algumas ações sob o movimento “Essa Cadeira É Minha”, em prol das mulheres. Entre elas, ações em redes sociais e o oferecimento de cursos na área de tecnologia, totalmente gratuito. A nova rodada do curso, que beneficiará 25 mulheres, terá inscrições para o processo seletivo entre 18 de janeiro a 6 de fevereiro. Mais informações em https://letscode.com.br/catho.

Já a plataforma Empodera aposta na parceria com grandes empresas para a realização de recrutamentos inclusivos. Atualmente, ela está com vagas abertas para profissionais negros na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Mais informações em: www.comunidadeempodera.com.br

Outra empresa que está apostando na contratação de pessoas pretas é a healthtech Bionexo, que lançou um programa global para contratação de pessoas pretas em todos os países onde tem atuação: Brasil, Argentina, Colômbia e México. Mais informações em: https://jobs.kenoby.com/sejaumbiolover

Ainda no mundo da tecnologia, a empresa global de TI SoftteK acaba de iniciar uma parceira com a ONG Meu Futuro Digital para a inclusão de mais mulheres no mercado de tecnologia. A ideia é promover mentorias para mulheres que desejam entrar na área e depois possibilitar a contratação das profissionais. Mais informações em: https://sermulheremtech.com.br/

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Diário Mais

Saiba qual cidade tem o metro quadrado mais caro do litoral de SP

Levantamento foi elaborado pelo DataZap

Cotidiano

Jovem de 14 anos desaparece em rio do Vale do Ribeira

Garoto nadava em rio na companhia de outros menores quando acabou levado pela correnteza

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter